Caravana Horizonte Paulista:Mais políticas para mulheres
Padilha ampliou a questão para as políticas de direitos humanos de modo geral: “E não venham falar que criar secretaria para mulheres é criar secretarias demais. Criticam Lula por ter criado muitos ministérios, mas ninguém pede para acabar com o ministério da economia ou da indústria
Sexta-feira, 11 de abril de 2014
“Bom-dia, metalúrgicas!” A saudação de Alexandre Padilha na manhã do sábado, 5 de abril, marcou um momento de ampliação da rota da quinta etapa da Caravana Horizonte Paulista, que percorria a região de Osasco. Estávamos agora noutro ponto da Região Metropolitana de São Paulo, em São Bernardo do Campo (22 quilômetros da capital, 805,9 mil habitantes), onde o coordenador da caravana foi recebido em uma das mesas do 3º Congresso das Metalúrgicas do ABC.
Em cada trecho do trajeto, Padilha tem reiterado que faz questão de reservar espaços privilegiados para encontros com diversos grupos sociais organizados – e, de fato, o sábado foi todo dedicado a esse diálogo, da participação no congresso das metalúrgicas a uma grande plenária com representantes dos movimentos de mulheres, negros e juventude em Carapicuíba (29 quilômetros da capital, 373,4 mil habitantes), município vizinho de Osasco.
Em São Bernardo, para uma audiência repleta de trabalhadoras da indústria metalúrgica no berço político de Luiz Inácio Lula da Silva, Padilha contestou as políticas do governo estadual tucano para as mulheres, e as contrastou com as adotadas a partir de 2003 pelos presidentes Lula e Dilma Rousseff.
“Nós estamos no estado mais rico do país, mas infelizmente São Paulo ainda não se tornou um exemplo para a política de defesa dos direitos das mulheres”, iniciou. “É inadmissível que, sob governos do mesmo partido desde 1994, até hoje a delegacia de direitos das mulheres do estado não funcione 24 horas por dia e nos fins de semana, quando é maior o risco de agressão contra mulheres.”
A seguir, estabeleceu a comparação entre os modelos tucano e petista nessa área: “O presidente Lula e o PT foram os responsáveis por aprovar e implantar a Lei Maria da Penha em plano nacional. São Paulo foi o último estado a aderir ao programa de combate à violência contra as mulheres da presidenta Dilma”, comparou. “O governo do estado até hoje não fez sequer uma secretaria, não fez aquilo que Lula fez no governo federal, que o prefeito Luiz Marinho fez aqui em São Bernardo, que Fernando Haddad fez na capital”.
Das secretarias de mulheres, Padilha ampliou a questão para as políticas de direitos humanos de modo geral: “E não venham falar que criar secretaria para mulheres é criar secretarias demais. Criticam Lula por ter criado muitos ministérios, mas ninguém pede para acabar com o ministério da economia ou da indústria. Só querem acabar com os ministérios que cuidam das mulheres, da promoção de igualdade racial, dos direitos humanos, do desenvolvimento agrário para pequenos produtores, dos mais pobres. É para isto que surgiram o PT e o sindicato de metalúrgicos do ABC: para defender os direitos daqueles que sempre tiveram menos direitos e oportunidades”.
A plenária de Carapicuíba aconteceu no Instituto Casa da Gente, do, secretário paulistano de Promoção da Igualdade Racial, Netinho de Paula. No amplo ginásio localizado no conjunto habitacional que é cenário do sucesso “Cohab City” (1995), do grupo Negritude Júnior, Padilha se colocou diante de representantes dos jovens, à esquerda, dos negros, ao centro, e das mulheres, à direita. A sobreposição de grupos criou um mosaico de jovens negros com bonés de funk à esquerda, mulheres vestidas com roupas rituais do candomblé ao centro, e assim por diante.
Integrante do diretório estadual do PT, o jovem Wanderley Bressan voltou à questão da diversidade sexual, que havia abordado dois dias antes durante sessão na Câmara Municipal de sua cidade de origem, Taboão da Serra (18 quilômetros da capital, 244,7 mil habitantes). “Já fizemos três paradas gays em Taboão. Na mais recente, havia 30 mil pessoas. E o prefeito do PSDB se recusa a receber o movimento. Lésbicas, gays, travestis e transexuais não mordem”, ele criticou. “A educação do governo estadual é racista, branca, machista e homofóbica.”
Em sua intervenção, Padilha integrou mais uma vez diversos vieses da luta pelos direitos humanos, abordando o racismo institucional e, sob aplausos, o programa Mais Médicos. “A coragem que tivemos de implantar o Mais Médicos para o Brasil não foi só a coragem de enfrentar a resistência de uma minoria de médicos que não queriam que trouxéssemos médicos de outros países para atender nosso povo”, começou, dirigindo-se à médica Regina Nogueira, que já encontrara no dia 14 de fevereiro na Fazenda Roseira, em Campinas.
“Nós também enfrentamos algo silencioso: o chamado racismo institucional, que ainda existe nas universidades, nos serviços de saúde, dentro dos hospitais. Na minha turma no curso de medicina na Unicamp, em quase cem alunos, só havia duas negras”, afirmou o ex-ministro da Saúde. “Quando chegaram os primeiros médicos cubanos, uma pessoa que é jornalista escreveu nas redes sociais que as médicas cubanas tinham cara de empregadas domésticas. É porque não acreditam e não aceitam que uma mulher negra como Regina possa ser uma doutora.”
Mais uma vez, Padilha confrontou as políticas sociais do PSDB paulista: “Se tem uma coisa que coloca mulheres, jovens e negros sob ameaça no estado mais rico do nosso país, é a violência que existe hoje contra eles. A violência, o extermínio, os homicídios em São Paulo hoje têm lugar e têm cor. Na sua grande maioria, são jovens negros que moram na periferia”. E voltou a citar o não-funcionamento das delegacias de mulheres em fins-de-semanas, noites e madrugadas, somando a esse grupo de vulnerabilidade as travestis e transexuais.
Padilha se despediu de Carapicuíba com um convite para a próxima oportunidade de convívio entre grupos e movimentos sociais: o Camping Digital do PT, que a Caravana Horizonte Paulista promove entre os próximos dias 18 e 20, em São José dos Campos. “Preparem-se, porque nós vamos fazer acampamento”, brincou.