Lula: “Tanto o PT quanto a Petrobras não têm que fugir da verdade”

No início da entrevista coletiva, Lula disse que os “meios de comunicação pioraram do ponto de vista da neutralidade”. A afirmação veio acompanhada da polêmica sobre uma possível briga entre Dilma e Lula, no início do ano, que foi negada pelo ex-presidente

Por GGN
Quarta-feira, 9 de abril de 2014


ornal GGN - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu uma entrevista coletiva a blogueiros. A entrevista foi transmitida pela Rede TVT (do Sindicato dos Trabalhadores de São Bernardo do Campo) e teve, aproximadamente, três horas e meia de duração.

Participaram da mesa de blogueiros Renato Rovai, da revista Forum, a jornalista Conceição Lemes do Viomundo, o jornalista Altamiro Borges do Blog do Miro, Miguel do Rosário de O Cafezinho, Marco Weissheimer do Sul21, Rodrigo Vianna do Escrivinhador, Fernando Brito do Tijolaço, Kiko Nogueira do Diário do Centro do Mundo e Eduardo Guimarães do Blog da Cidadania.

No início da entrevista coletiva, Lula disse que os “meios de comunicação pioraram do ponto de vista da neutralidade”. A afirmação veio acompanhada da polêmica sobre uma possível briga entre Dilma e Lula, no início do ano, que foi negada pelo ex-presidente.

Em seguida, Luiz Inácio Lula da Silva antecipou alguns boatos sobre a candidatura a presidente da República. Lula negou: “se vocês puderem acabar com essa boataria toda, vocês estarão contribuindo com o processo de democratização desse país”.

“Não tem pergunta proibida, aquilo que eu não souber responder, eu direi que não sei”, disse Lula abrindo para as perguntas dos blogueiros.

CPI Petrobrás

O momento de destaque da coletiva foi quando Lula abordou a CPI da Petrobrás e o julgamento da Ação Penal 470.

De forma crítica, o ex-presidente apresentou que a investigação da Petrobras teve o teor determinado pelas disputas políticas. “Tanto o PT, quanto a Petrobras, não têm que fugir da verdade, não tem que ter medo, tem que apurar a verdade, os números estão colocados. O que a gente não pode é ficar vendo em cada em eleição, por falta de assunto, a oposição que nunca quis CPI, ficar disputando [no Congresso] como programa de campanha”, disse Lula.

“A Petrobrás é motivo de orgulho nacional há muito tempo. Talvez parte daqueles que querem a CPI hoje pode ser os mesmos que naquela época não queriam a criação da Petrobrás”, afirmou, acrescentando: “Para mim, eu dizia que Petrobrás é tão importante que daqui a pouco teria o presidente da Petrobras indicando e elegendo o presidente da República”.

Sobre a descoberta do Pré-sal, deu seu posicionamento sobre quando ainda era presidente: “não podia permitir que o petróleo fosse utilizado para que o dinheiro fosse o ralo da rede pública no Brasil. A minha intenção era criar um fundo para dedicar investimentos a ciência e tecnologia, saúde, educação, meio ambiente. Um fundo como uma espécie de passaporte para o futuro”.

“É isso que eu tinha da Petrobrás, recuperação da autoestima. E se um dia ela tiver defeito, nós temos que consertar, mas ela é motivo de orgulho do Brasil”, concluiu.

AP 470

Sobre o julgamento da Ação Penal 470, Lula foi questionado se ele se arrependeu de ter indicado Joaquim Barbosa ao Supremo Tribunal Federal: “Não, quando eu indiquei não tinha o julgamento do mensalão. Eu indiquei Joaquim Barbosa porque eu queria um negro na Suprema Corte brasileira, e de todos os currículos que recebi, o do Joaquim Barbosa era o melhor. Agora, o seu comportamento é da inteira responsabilidade dele”.

Para Lula, a principal crítica ao julgamento foi o comportamento midiático. “O mensalão foi o mais forte processo político desse país, em que a imprensa teve um papel de condenação explícita antes de cada sessão. Eu nunca vi nada igual, o massacre era apoteótico. O que eu não vi, agora, foi no caso de Minas Gerais. Está lá, com dois pesos e duas medidas. Os mesmos que condenaram Dirceu foram os mesmos que não fizeram nada em Minas”.

Com relação às penas, Lula também criticou: “Um abuso muito grave do exercício de poder, Dirceu deveria teoricamente estar em prisão domiciliar. Mas isso serve de experiência, de reflexão”.

O ex-presidente também culpou o partido. “Erro do PT na bancada, deveria ter feito uma luta durante os sete anos. Nós ficamos pensando juridicamente numa ação que estava sendo pensada politicamente”.

Lula também se apresentou indignado com a postura de alguns ministros do Supremo Tribunal Federal, ao repassar informações para os meios de comunicação antes das sessões de julgamento. “A Suprema Corte tem que julgar nos autos do processo, não tem que falar nada antes. Depois, caiu o crime de quadrilha de Dirceu, caiu o de João Paulo. As pessoas precisavam provar e não tinham provas”.

“Eu não quero me precipitar fazendo julgamento. Eu acho que ainda tem muita história para contar, desfazendo alguns mistérios que até agora parece ter. Mas serve para não abaixar a cabeça, perseverar sempre. Cai um tombo, levanta; cai um tombo, levanta e um dia você derruba os outros”, finalizou sobre o caso.

Saúde

Tema que será um dos principais alvos das campanhas presidenciais deste ano é a saúde. Lula afirmou que esse problema é muito mais de falta de recursos: “Não é possível levar saúde de qualidade às pessoas sem ter dinheiro. Mais de R$ 250 bilhões da saúde foram tirados do meu mandado e não foram colocados. Possivelmente tem um pouco de gestão, mas o problema é dinheiro de verdade”.

Sobre as reivindicações contra o programa “Mais Médicos” do governo federal, de que existem médicos suficientes no Brasil e de que não era preciso trazer os profissionais de Cuba, Lula respondeu: “o Mais Médicos está provando que não era verdade. Você tem acesso a médico na Avenida Paulista, você tem acesso a médico na elite, mas não tem para os pobres”.

Ainda assim, completou: “já falei isso para a Dilma e para o Padilha, não pense que o ‘Mais Médicos’ vai resolver o problema, porque terão mais. Na hora que descobre um problema de saúde, indo ao medico, você vai precisar de um especialista. E aí, o cara tem que entrar numa fila de 5/6 meses. Para mim, tem que credenciar a fila médica desse país, para atender quem quiser com um cartão. Credenciar o que não tem na rede pública”.

“E quanto mais gente incluir no sistema, mais investimento tem que fazer na saúde. A presidente e os dois candidatos que já foram governadores sabem o que é isso e vão ter que apresentar propostas boas”, afirmou.

Copa

Sobre o movimento contra a Copa do Mundo 2014, Lula disse: “Não podemos construir isso numa derrota. O dinheiro que utiliza na Copa do Mundo não era do orçamento da União, não estava disponível para a saúde. E vem em estrutura, o Brasil que não tinha nenhum estádio, hoje vai ter dois estádios competitivos com o maior do mundo”.

Quanto aos investimentos, adicionou: “Não é porque eu faço uma coisa que eu não faço outra. O problema da infraestrutura é secular. Ficar preocupado com manifestação... Deixa ter manifestação! O importante é que tenha o espetáculo”.

“‘Trabalhador que se contenta com o que tem não é trabalhador’. Não foi Lênin que disse isso, foi Julio Barata. Você quer coisa melhor pra democracia do que fazer protesto? Esse é o momento”, concluiu.

Balanço

Lula fez um balanço dos progressos em 11 anos de PT na presidência e reforçou que se manteve em silêncio durante esses últimos anos para deixar que Dilma Rousseff atuasse: “Nós vencemos o complexo de Vira-Lata desse país. Uma elite complexada, em que tudo lá fora era bonito, bom, e que nós brasileiros não valíamos nada. Falta o Brasil ir para a ofensiva. Enfrentar as crises significa mais do que ficar quieto, significa ir à frente. E ela [Dilma] sabe que a gente vai ter que trabalhar muito mais para conseguir retomar a subida novamente”.

Também foram abordados os temas da bancada governista na Câmara e Senado (“eu tenho o Congresso que o povo elegeu e é com eles que tenho que lidar”); seu histórico de luta sindical; a reforma política (“a gente pleiteava financiamento público de campanha, estou convencido que é a forma mais barata e mais honesta – cada cidadão deve saber quanto custa um voto”); a descentralização dos partidos (“o PMDB, que é um grande partido, é uma federação de caciques estaduais; os partidos são tribos regionais, o único que nasceu nacional é o PT e, mesmo assim, ainda existem interesses regionais que prevalecem”) e o Marco Civil da Internet (“eu falei para a Dilma, o encontro do Arena é o momento de você sancionar a lei, vai ser um modelo para o mundo”).




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