Snowden: EUA espionaram Anistia, HRW e outras organizações de direitos humanos

Em depoimento, o ex-analista também afirmou que a NSA fazia dossiês com informações íntimas de religiosos

Por Opera Mundi
Quarta-feira, 9 de abril de 2014


Por meio de sua rede de vigilância digital, o governo dos Estados Unidos espionou importantes organizações internacionais defensoras dos direitos humanos, como Anistia Internacional e Human Rights Watch. A revelação foi feita nesta terça-feira (08/04) por Edward Snowden, ex-analista que prestava serviços à NSA (Agência Nacional de Segurança dos EUA), em depoimento por videoconferência ao Conselho da Europa, sediado na cidade francesa de Estrasburgo.

"A NSA teve especificamente como alvo líderes ou funcionários de algumas organizações civis e não-governamentais, inclusive dentro das fronteiras dos EUA", disse Snowden aos membros do conselho, sem revelar quais entidades foram grampeadas. Perguntado pelos conselheiros se Washington havia espionado "informações confidenciais e altamente delicadas" de relevantes instituições como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, Snowden foi taxativo: "A resposta é, sem dúvidas, sim. Absolutamente".

Procurado pela Justiça dos EUA sob acusação de traição (e também alvo de ameaças) por ter vazado ao jornalista Glenn Greenwald documentos que revelam o amplo esquema de vigilância montado pelo governo norte-americano, Snowden vive em Moscou, após asilo temporário recebido da Rússia em agosto de 2013. Na videoconferência ao Conselho da Europa, o especialista em tecnologia deu mais detalhes da atuação das agências de inteligência controladas pelo governo dos EUA, cujas práticas de ciberespionagem comprovadamente servem para identificar alvos de bombardeios com drones.

Segundo Snowden, a NSA fazia dossiês com informações de cunho pessoal (material de conteúdo sexual explícito, crenças religiosas, afinidades políticas e relações comerciais) coletadas de líderes religiosos conservadores com o objetivo de, por conveniência política, torná-las públicas e destruir a credibilidade e a reputação de alguns desses expoentes considerados radicais por Washington. Com os dados reunidos seria possível, por exemplo, montar uma lista de todas as pessoas homossexuais ou cristãs no Egito, afirmou Snowden.

“Está é uma forma sem precedentes de interferência política que não acredito que possamos ver em quaisquer outros governos ocidentais. Mas atualmente não há meios legais para desafiá-la ou punir tais abusos. Isto é claramente um uso desproporcional de uma autoridade extraordinariamente invasiva”, declarou aos interlocutores.

Na prática, a NSA tem como vigiar populações inteiras, espionando cidadãos que não estavam envolvidos em atividades criminosas. “A agência operava de facto uma política de culpa por associação”, disse. Por meio da ferramenta batizada de XKeyscore, os técnicos da NSA tinham a seu alcance enormes bancos de dados com “trilhões” de números de telefone, emails, bate-papos virtuais e históricos de navegação de milhares de pessoas que não usam sistemas criptografados na web.

Não apenas os metadados, mas também o conteúdo das informações podia ser acessado “sem autorização judicial ou revisão prévia”. Para cair na malha fina da NSA basta “ter o azar de clicar no link errado, fazer o download de determinado arquivo ou simplesmente visitar um fórum online de conteúdo sexual”.

Diante das denúncias, Snowden crê que “os direitos humanos estarão mais protegidos com a luta pela proibição da vigilância em massa”. O informante, que começou sua carreira no setor de inteligência trabalhando para a CIA em Genebra, lamentou a falta de esforços dos líderes políticos para regular o sistema. E alertou: “este não é um problema isolado dos EUA ou da Europa, é um problema internacional”.
Snowden ainda quis deixar claro que acredita sim em operações de inteligência “legítimas” — a NSA deveria voltar ao tradicional modelo e espionar alvos específicos, como “Coreia do Norte, terroristas, ou quaisquer outros”. “Não tenho a intenção de prejudicar o governo dos EUA ou constranger seus laços bilaterais”, acrescentou o ex-analista.

No início do ano, diante da enxurrada de críticas causadas pelo vazamento do esquema de ciberespionagem, o presidente norte-americano, Barack Obama, anunciou que o sistema de monitoramento de informações da NSA passaria por uma reforma. “Confiem em nós, não abusaremos dos seus dados”, disse o presidente dos EUA, numa tentativa de tranquilizar a comunidade internacional, dizendo que líderes de nações aliadas não serão mais espionados, “a menos que exista um forte motivo de segurança nacional”.




Diretório Estadual de São Paulo do Partido dos Trabalhadores
Rua Abolição, 297, Bela Vista - 01319-010 - São Paulo - SP
Telefone (11) 2103-1313

Licença Creative Commons Esta obra foi licenciado sob CC-Attribution 3.0 Brazil.
Exceto especificado em contrário e conteúdos replicados.