Alckmin contrata entidade presidida por seu auxiliar
Coordenador do programa anticrack do Estado vai gerenciar hospital para tratamento de dependentes
Quarta-feira, 2 de abril de 2014
Entidade presidida pelo coordenador do programa Recomeço, do governo do Estado, vai gerir um hospital para tratamento de dependentes químicos na região da Cracolândia, no centro da capital. A Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) foi contratada pelo governo por R$ 114 milhões por um período de cinco anos. O presidente da entidade, o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordena o programa estadual de combate à dependência de crack.
Para o Ministério Público do Estado, a situação configura conflito de interesses. “É uma situação muito inusual alguém estar dos dois lados, como contratante e como contratado”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo o promotor de Saúde Pública Arthur Pinto Filho. Laranjeira assinou o contrato com o Estado em dezembro passado. Ele preside a entidade desde agosto.
Para o professor de Direito Administrativo da Universidade Mackenzie Bruno Boris, o fato pode até configurar tráfico de influência. “Se ele é coordenador da política anticrack do Estado, tem poder de decisão, assim como tem acesso a informações privilegiadas dentro do governo”, afirmou Boris ao jornal.
O hospital fica na rua Helvétia e terá leitos para desintoxicação, moradias para dependentes químicos e centro de convivência. Será instalado em um edifício vazio na rua. Nos anos 40 e 50, o local abrigou a Reitoria da Universidade de São Paulo. Lançado em novembro do ano passado, o hospital está com as obras atrasadas. Laranjeira havia prometido para fevereiro a inauguração do centro de convivência. No local, não há obras nem operários trabalhando.
A Secretaria de Saúde do Estado e a SPDM afirmaram que Laranjeira não tem cargo remunerado em nenhuma das duas instituições e não tem poder de decisão sobre os investimentos da secretaria. O governo do Estado afirmou que o coordenador do Recomeço não é ordenador de despesas, o que descaracteriza conflito de interesses. A SPDM disse que participou de edital público para assumir a gestão do hospital.