
Trensalão: falta denunciar os políticos
MP denunciou à Justiça 30 executivos de 12 empresas por formação de cartel e fraude a licitações
Quinta-feira, 27 de março de 2014
Nesta segunda-feira (25), o Ministério Público de São Paulo apresentou à Justiça denúncia criminal contra 30 executivos de 12 empresas por formação de cartel e fraude a licitações no sistema metroferroviário do Estado. As denúncias compreendem operações feitas durante os anos de 1998 a 2008 – governos dos tucanos Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra.
Se o Judiciário aceitar a acusação formal de formação de cartel e fraude à licitação, os denunciados passarão à condição de réus e poderão ser punidos com penas que vão de 2 a 15 anos de prisão. A denúncia pode reforçar as investigações de outros dois setores da Promotoria sobre o caso.
O Gaeco, grupo especializado de combate ao crime organizado, apura se servidores e políticos foram subornados pelo cartel ou tiveram participação nos conluios. Já a área do Patrimônio Público da instituição investiga situações de improbidade administrativa e busca estimar o valor do prejuízo aos cofres públicos para pedir a devolução do dinheiro.
Foram apresentadas cinco ações criminais, relativas a cinco projetos: Linha 5-lilás e expansão da Linha 2-verde do Metrô, programa de reforma de trens Boa Viagem, manutenção de trens das séries 2000, 2100 e 3000, e compra de 48 trens pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
Os novos projetos incluídos na nota técnica do Cade na semana passada – a reforma das linhas 1 e 3 do Metrô e a reforma da série 5500 da CPTM – serão investigados a partir de agora e devem gerar novas denúncias criminais.
O promotor Marcelo Mendroni, do grupo de repressão a delitos econômicos e titular da investigação sobre o cartel, estima que os contratos possam ter sido superfaturados em até 30%, resultando em um prejuízo de R$ 834 milhões aos cofres públicos paulistas. Ao todo, os projetos envolveram 11 contratos no valor de cerca de R$ 2,8 bilhões.
A denúncia tem base em acordo de leniência firmado pela empresa alemã Siemens com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) do governo federal, e apurações complementares feitas por Mendroni.
Foram denunciados funcionários da Siemens, Alstom, CAF, Bombardier, T’Trans, Mitsui, MGE, Temoinsa, Tejofran, Balfour Beatty, Hyundai-Rotem e DaimlerChrysler. Por meio de notas, todos os citados negaram as acusações. A Siemens afirmou que colabora com as investigações.
Outros casos
O MP de São Paulo já tem aberto processo por improbidade administrativa (âmbito civil) contra o atual presidente da CPTM, Mário Bandeira, e o diretor de Operações da companhia, José Luiz Lavorente.
O Ministério Público Federal em São Paulo e a Polícia Federal também investigam o cartel no sistema metroferroviário de São Paulo. Seis pessoas já foram indiciadas na Justiça Federal, entre os quais três ex-diretores da CPTM. O MPF remeteu ao Supremo Tribunal Federal (STF) inquérito contra quatro deputados federais (três deles secretários do governo Alckmin): Edson Aparecido (PSDB), José Aníbal (PSDB), Rodrigo Garcia (DEM) e Arnaldo Jardim (PPS). A Corte aguarda pronunciamento do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para iniciar o processo.
O Cade abriu semana passada processo administrativo por suspeita de cartel em quatro Estados (incluindo São Paulo) e o Distrito Federal. No governo paulista, estão sob suspeita sete licitações durante os governos Covas, Alckmin e Serra.
Além desses casos, a Alstom ainda é investigada pela PF e pelo MPF em caso de prorrogação de um contrato de fornecimento de equipamentos à Eletropaulo e à EPTE (Empresa Paulista de Transmissão de Energia). Foi aberto processo criminal contra 11 pessoas, entre ex-diretores da multinacional francesa, lobistas e ex-diretores da então estatal.
Lista dos denunciados:
Siemens
- Peter Rathgeber – gerente de vendas da Siemens
- Robert Huber Weber – diretor da Siemens AG
- Herbert Hans Steffen – membro do conselho regional da Siemens
- Rainer Giebl – diretor comercial da Siemens AG para América do Sul
- José Aniorte Jimenez – diretor técnico regional de vendas de trens e metrô na Espanha, América do Norte e América do Sul da Siemens AG
- Marco Vinicius Missawa – funcionário da Siemens no Brasil
- Dirk Schönberger – gerente de projetos da Siemens AG
- Friedrich Smaxwill – membro do conselho regional da Siemens AG
- Lothar Dill, diretor da divisão de vendas para trens regionais da Siemens AG
- Lothar Müller – diretor do setor industrial da Siemens AG
- Jochen Wiebner – diretor financeiro da divisão de trens
- Alexander Flegel – equipe de desenvolvimento de negócios de tração da Siemens AG
Alstom
- Paulo José de Carvalho Borges – diretor da divisão de Transportes
- Geraldo Phillipe Hertz – diretor comercial da divisão de Transportes
- Eduardo Cesar Basaglia – gerente de vendas da divisão de transportes
CAF
- Murilo Rodrigues da Cunha – diretor
Bombardier
- Serge Van Temsche – presidente
- Manuel Carlos do Rio Filho – funcionário
Mitsui
- Masao Suzuki – vice-presidente da divisão de transporte
Temoinsa
- Maurício Memória – funcionário
- Wilson Daré – funcionário
T’Trans
- Massimo Giavina Bianchi – presidente
- Edson Yassuo Hira – gerente de propostas
Tejofran
- Ricardo Lopes – gerente comercial
Balfour Beatty Rail Power Systems Brasil
- Haroldo Oliveira de Carvalho – presidente
MGE
- Carlos Teixeira – sócio
- Ronaldo Hikari Moriyama – sócio
DaimlerChrysler
- Albert Fernando Blum – presidente
Hyundai-Rotem
- Dong Ik Woo – gerente geral