Combate permanente às trevas do Golpe de 64

Os cinqüenta anos do Golpe de 64, nos convida a uma reflexão profunda sobre o papel que a esquerda deve desempenhar nos momentos de ataques e investidas das forças de direita e na defesa de uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária

Por Edivaldo Ramos de Oliveira
Quinta-feira, 27 de março de 2014


Vítima da sanha autoritária das forças reacionárias da época — articuladas entre os políticos de direita, a classe média urbana, os latifundiários, de setores da Igreja católica, e do empresariado, a grande mídia e os militares —, revelou-se surpresa com o Golpe, mantendo-se entre a hesitação e a inércia diante da ação autoritária dos artífices da quebra da legalidade, acreditando na condição provisória do movimento. Quando se apercebeu da necessidade de reação, foi rechaçada com a mais truculenta das formas de repressão e perseguição. Perdeu o “timing” da reação e viu-se na defensiva.

A lição que aprendemos, consolida a convicção de que sempre devemos cerrar fileiras em defesa da democracia e da liberdade, sempre que murmúrios ditatoriais forem lançados ao vento e que posturas autoritárias esboçarem vir à cena.

É com essa motivação que repudiamos com absoluta veemência as recentes tentativas de rearticulação das “Marchas da Família com Deus pela Liberdade”, proto manifestações de apoio, defesa e implantação do Golpe de 64, perpetradas na ânsia de reposicionar no cenário político as forças reacionárias que, há cinqüenta anos, assaltaram o poder legalmente constituído e mergulharam o país em uma aventura autoritária e repressiva, que nos condenou a 21 anos de trevas.

O Brasil clama pela urgente cicatrização das feridas abertas pela ditadura e ainda não equacionadas. É preciso rediscutir a Lei da Anistia e responsabilizar aqueles que torturaram e mataram em nome do regime de exceção. Devem responder, ainda que postumamente, pelos crimes que cometeram contra a Humanidade e serem punidos como exemplo contra o arbítrio. O STF precisa rever sua recente decisão pela completa e definitiva legitimação do absurdo de sua concepção à época, que igualou torturados e torturadores, vítimas e algozes. Milhares de militantes da esquerda foram processados e punidos, presos, banidos do país e tiveram seus direitos políticos suspensos, diferentemente dos agentes da repressão. É um gritante caso de legalidade que entra em conflito com a legitimidade. Com essa lei, a ditadura se autoanistiou...

A tosca tentativa de interromper e interditar a nossa incipiente democracia e reinstalar o retrocesso em nossa sociedade, deve ser entendida não como o ato pitoresco e ridículo que se revelou, mas como uma ação oportunista de forças reacionárias que não aceitam os avanços que os governos petistas propiciaram à população mais necessitada. A melhora na distribuição de renda, a inclusão social de massas desassistidas, os avanços na política agrária, a redução do desemprego, a democratização do crédito e o aumento do acesso às políticas públicas de proteção social, desagradaram sobremaneira as elites do país, verbalizadas pela grande mídia — essa sim a verdadeira direita brasileira.

O contexto atual nos remete à histórica luta de classes, denunciada por Marx. Os quase 30 anos da redemocratização do Brasil parecem não ter surtido efeito sobre as concepções da elite, pois, a devolução do poder aos civis legalmente eleitos, a Constituição de 88, o impeachment de um presidente, a campanha em defesa da indústria nacional e contra as privatizações e a eleição de um operário e depois de uma mulher à presidência da República, nada disso conseguiu cumprir o papel pedagógico de ensinar às elites a importância e o valor da convivência democrática com a classe trabalhadora.

Os cidadãos de bem desse país celebram o mais longo período de democracia e liberdade de nossa história, reverenciando os militantes que bravamente resistiram à ditadura, mas que foram trucidados em infindáveis sessões de tortura, como Stuart Angel, Vladimir Herzog, Sonia Maria Lopes Morais, Joaquim Câmara Ferreira, Bacuri, Manuel Fiel Filho, Alexandre Vanucchi e Virgilio Gomes da Silva, dentre tantos outros, bem como aqueles que foram vítimas de perseguição e emboscadas, como Carlos Marighela, Iara Iavelberg e Carlos Lamarca. A eles, some-se os que sobreviveram à tortura e dedicaram sua vida à construção da democracia brasileira.

O Partido dos Trabalhadores, feliz convergência de militâncias diversas, constituiu-se, desde a sua fundação, na mais expressiva força da esquerda brasileira, recebendo em seus quadros os mais significativos militantes do combate à ditadura, do novo sindicalismo, da Igreja progressista, dos estudantes e dos políticos sufocados pela repressão.

Muitos de nossos companheiros foram barbaramente torturados nos porões do regime militar, a começar pela presidenta Dilma Rousseff. Essa condição nos faz adotar a defesa incondicional da democracia e da liberdade.

Por tudo isso, repudiamos o Golpe militar de 64 e qualquer tentativa de reviver aquele período obscuro da nossa história, que mutilou toda uma geração de artistas, políticos, jornalistas, intelectuais e cidadãos em geral.

A chama da democracia há de sufocar para sempre as trevas da ditadura.

*Edivaldo Ramos de Oliveira, membro efetivo do Diretório Estadual do PT-SP




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