Cartão vermelho para o racismo – II

Ao tratarmos do problema do racismo, na coluna da semana passada, abordamos, além da oportuna reedição pelo Ministério do Esporte do livro O Negro no Futebol Brasileiro, também a agressão ao jogador Tinga, do Cruzeiro, em jogo no Peru

Por Aldo Rebelo*, no jornal Diário de São Paulo
Segunda-feira, 17 de março de 2014


Mas logo a seguir registraram-se episódios semelhantes no Brasil. O juiz Márcio Chagas da Silva foi xingado por torcedores do Esportivo, em Bento Gonçalves (RS), e o volante Arouca, do Santos, por seguidores do Mogi Mirim (SP).

Não fosse uma infâmia em qualquer campo, hostilizar um jogador negro é o clímax da impertinência. Foi do patrimônio genético dos negros que o futebol brasileiro extraiu a ginga que o singularizou em relação à cintura dura dos europeus. Como insultar, pela cor da pele, artistas da bola do naipe de Friedenreich, Leônidas, Zizinho, Fausto, Didi e aquele que basta chamar de Rei?

País escravocrata, como todos, o Brasil ostenta peculiaridades nas relações humanas que nos distinguiram das nações em que o racismo foi institucionalizado, a exemplo dos Estados Unidos. Era legal negros serem apartados nas relações de trabalho e no cotidiano, não podendo frequentar o mesmo espaço dos brancos, como um banco de escola ou de ônibus.

Fomos pioneiros em leis antirracistas, como a Afonso Arinos, de 1951. Construímos uma civilização em que, do ponto de vista étnico, o ponto mais importante é a miscigenação. Às vésperas de uma Copa que faremos em paz e sem racismo, não podemos reproduzir atitudes mais comuns a países da Europa, onde amiúde jogadores negros se queixam de insultos raciais.

Infelizmente, os instrumentos legais para repressão são limitados, e as investigações que conduziriam a punições, sofríveis. Não basta interditar estádio nem apenar o clube cuja torcida insulta a cor do adversário. Urge castigar os criminosos ao menos com a brandura da lei que define esses atos infames como simples injúria pessoal.

*Aldo Rebelo é ministro do Esporte.




Diretório Estadual de São Paulo do Partido dos Trabalhadores
Rua Abolição, 297, Bela Vista - 01319-010 - São Paulo - SP
Telefone (11) 2103-1313

Licença Creative Commons Esta obra foi licenciado sob CC-Attribution 3.0 Brazil.
Exceto especificado em contrário e conteúdos replicados.