Ousadia para o horror

Mostra ambiental homenageia Kaneto Shindô e seu cinetragédia

Por Carta Capital
Sábado, 15 de março de 2014


3a Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental
De 20 a 27 de março, SP

Por uma razão de origem, o japonês Kaneto Shindô (1912-2012) foi um raro realizador atento a si e à tragédia de uma nação. Parte de seus 45 filmes retrata os estragos da bomba atômica em Hiroshima, onde nasceu. A análise social e humana pode ser direta e imediata, como em Filhos de Hiroshima, o primeiro sucesso internacional, em 1952, quando uma professora retorna à cidade no pós-Guerra. Também distante um tanto mais, como no drama da jovem sobrevivente que acolhe um menino como seu em A Mãe (1963), ambos vítimas do efeito devastador.

Três anos antes, Shindô voltou-se para a memória pessoal no arrebatador A Ilha Nua, inspirado na labuta dos pais, ex-proprietários de terra falidos que se tornaram agricultores. Nesta poesia visual sem diálogos, silenciosa como o diretor lembra da mãe, um casal vive a faina diária de trazer água para a ilha desolada.

A ideia de terra arrasada que emerge da produção de Shindô não está por acaso vinculada à 3ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental (www.ecofalante.org.br), entre 20 e 27 de março em sete salas de São Paulo. Por essa consciência, ele é o homenageado com aqueles e outros três filmes, Onibaba – A Mulher Demônio (1964) incluído, obra-prima de sua fase de cunho fantástico. Como nos demais, a estrela é a mulher do cineasta, Nobuko Otowa, no papel de uma camponesa que no século XIV mata samurais para roubá-los. Será oportuno rever esse seguidor de Kenji Mizoguchi à luz de outra catástrofe.

Fukushima inspira a primeira ficção feita após o desastre nuclear, Terra da Esperança (2012), de Shion Sono, um dos 50 títulos selecionados para as seções contemporânea e competitiva latino-americana. Entre outros destaques, os documentários Blackfish – Fúria Animal, de Gabriela Cowperth-waite, sobre a orca de shows aquáticos que matou o treinador, e A Síndrome de Veneza, de Andreas Pichler, uma visão das peculiaridades da Sereníssima. Curioso e um tanto excêntrico, a ficção belga A Quinta Estação, de Peter Brosens e Jessica Woodworth, confronta moradores de um vilarejo idílico com a revolta da natureza.




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