Siemens e Alstom usaram empresas laranjas no Uruguai

Autoridades brasileiras e suíças suspeitam que consultorias serviram para pagar propina a agentes públicos de SP

Por Spresso SP
Quinta-feira, 6 de março de 2014


As multinacionais francesa Alstom e alemã Siemens contrataram três empresas sediadas no mesmo endereço em Montevidéu para prestar consultoria sobre projetos do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Segundo reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo” desta quinta-feira (6), a Gantown, a Leraway e a GHT Consulting têm registrado como endereço um imóvel comercial na capital uruguaia onde funciona o escritório de contabilidade Guyer y Regules, especializado em criar sociedades anônimas, muito usadas para impedir a identificação de seus proprietários.

De acordo com a reportagem, o escritório que sedia as três empresas uruguaias não dispõe de expertise para prestação de serviços de consultoria na área de transportes. O Uruguai não tem tradição na área metroferroviária. Não tem metrô e dispõe de apenas uma linha de trens de passageiros que conta com cinco carros e transporta somente cerca de 1.200 pessoas por dia. As três empresas sequer estão registradas como consultorias no país vizinho, mas como “assessoramento de investimentos financeiros”.

Segundo o Ministério Público suíço, a Alstom firmou, em 1999, contratos com a Gantown e a GHT Consulting. O objetivo era a prestação de consultoria para fornecer 129 composições à CPTM. A promotoria suíça sustenta que as empresas eram “destinatárias do pagamento de comissões efetuadas por companhias da Alstom no âmbito dos projetos da CPTM”.

A Siemens assinou dois contratos idênticos, um com a Gantown e outro com a Leraway, no mesmo dia de abril de 2000, para consultoria relativa à implantação da Linha 5 (Lilás) do Metrô – o maior dos seis contratos que a Siemens denunciou ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) por formação de cartel.

A Gantown, a Leraway e a GHT fazem parte de uma lista de empresas que o Ministério Público da Suíça e o ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer atribuem aos consultores Arthur Teixeira e Sérgio Teixeira. Sérgio morreu em 2011. Arthur é hoje um dos indiciados pela Polícia Federal no inquérito do cartel, suspeito de intermediar as propinas. Segundo os investigadores suíços, o dinheiro transitava entre contas das empresas e de seus donos no Uruguai, na Suíça e na Inglaterra e depois era transferido por doleiros para destinos desconhecidos.

Em colaboração premiada feita na Polícia Federal, Rheinheimer disse que os fornecedores de equipamentos da Linha 5 pagaram de propina 9% do total do contrato de R$ 945 milhões, em valores atualizados.

Cooperação

Há quase seis anos, autoridades brasileiras têm indícios de que parte do suposto esquema de corrupção da Alstom e da Siemens passava por empresas uruguaias, mas nunca fizeram nenhum pedido de cooperação ao país vizinho.

O primeiro documento do inquérito sobre a Siemens da Polícia Federal é uma representação de cinco páginas do então líder do PT na Assembleia de São Paulo, Roberto Felício, em agosto de 2008. Ele relatou ao procurador Rodrigo de Grandis, do Ministério Público Federal, que recebera documentos nos quais se denunciava a prática de atividades ilícitas da Alstom e da Siemens no Metrô e na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).

Em fevereiro deste ano, o ministro-relator da investigação sobre o cartel metroferroviário n Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello, autorizou o compartilhamento do inquérito com o Ministério Público Federal em São Paulo, que abriu investigação disciplinar contra o procurador Rodrigo de Santis, suspeito de atuar para atrasar as investigações. A decisão atende a um pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que determinou que o MPF averigue a conduta de Santis, responsável pelo caso. Ele teria impedido a tomada de depoimentos de três suspeitos, o que levou o Ministério Público suíço a arquivar o processo.




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