PM impede festa de carnaval no túnel do Minhocão

Coletivos da cidade marcaram um bloco seguido de festa no túnel, o Buraco da Minhoca, que vem sendo ocupado desde o início do ano; a Polícia Militar isolou o local e recuou os foliões

Por SpressoSP
Terça-feira, 4 de março de 2014


Uma ação da Polícia Militar de São Paulo impediu neste sábado (1) a realização de uma festa de carnaval no túnel que passa embaixo da Praça Roosevelt, no centro, que dá acesso ao Elevado Costa e Silva. O local, que aos finais de semana fica interditado, passou a ficar conhecido como Buraco da Minhoca desde o início do ano, depois que coletivos da cidade começaram a ocupar o espaço para a realização de festas e intervenções culturais. A ideia dos coletivos é a de ocupar e aproveitar os espaços públicos da cidade gratuitamente.

Foi com essa ideia também que os coletivos, entre eles o pessoal do Parque Augusta e os organizadores da festa Carlos Capslock, marcaram um bloco e uma festa de carnaval para acontecer no local, a partir das 22h deste sábado (1). Logo no início da noite, o túnel, que recebeu festas dos coletivos nos últimos finais de semana sem maiores problemas, já estava sendo isolado por policiais. Sem entender muito o que estava acontecendo, centenas de pessoas que estavam confirmadas para participar da festa começaram a se aglomerar nas imediações do local.

A PM não permitiu que a festa fosse realizada dentro do túnel e deixou somente que o bloco passasse por um curto trajeto na parte de cima do elevado. Feito o pequeno cortejo, os coletivos foram impedidos de avançar pelo elevado e tiveram que voltar por dentro do túnel. Policiais formando cordões na parte da frente e de trás do bloco foram empurrando cada vez mais as pessoas para fora da parte interna e não permitiram que a festa se realizasse no local, conforme estava previsto.

A festa, segundo os organizadores, tinha a autorização da Prefeitura para acontecer. A PM, por sua vez, alegou que os coletivos não tinham autorização da Secretaria de Segurança Pública para realizar o evento. Eles informaram que era preciso avisar a Secretaria com antecedência e que a Prefeitura não responde pela segurança do local sozinha, mas em conjunto com o Governo do Estado.

Durante algum tempo, os foliões continuaram ocupando parte do túnel e, em ritmo de festa, resistiam a pressão dos policiais com músicas alegres ou ainda palavras de ordem como “O buraco é nosso” ou “Ocupar e resistir”.

Acoados pelo grande número de policiais e depois de conversas entre os organizadores do evento, as pessoas que participavam da festa puderam permanecer somente na pequena parte externa, que dá acesso ao túnel, sem poder ligar os equipamentos de som que estavam nos planos e impedidos de festejar em alto volume, em pleno sábado de carnaval.

Confira abaixo, na íntegra, a nota divulgada pelos colaboradores que promoveram a festa, publicada na página oficial do Buraco da Minhoca no Facebook:

Esclarecimentos sobre o evento de ontem no Buraco da Minhoca:

Informamos que ontem foi proibida por parte da polícia militar a realização de um evento parado dentro do Buraco da Minhoca, utilizando equipamentos de som maiores e a possível aglomeração massiva no espaço.

A PM alegou que além da autorização da prefeitura, que nós tínhamos, era necessário também uma autorização da Secretaria de Segurança Pública com antecedência, o que não tínhamos, por entendermos que a autorização da prefeitura e o próprio conhecimento da realização pacífica de ao menos 5 eventos ali, seriam o suficientes. Para a PM a prefeitura não responde pela segurança do local sozinha, mas em conjunto com o Governo do Estado.

De toda forma, nos foi autorizada a passagem do bloco de carnaval e a permanência na área externa, não coberta do túnel, desde que não fosse montada aparelhagem de som do porte que estava programada pela organização do Carlos Caps Lock e Seus Amigos.

O próprio batalhão ali presente, percebeu o caráter pacífico do evento carnavalesco, conforme longas conversas com o capitão responsável, que mostrou-se solícito ao conversar e esclarecer durante horas, os pontos de vista (questionáveis, ok?) mas que fazem parte do entendimento da PM/Governo do Estado em relação à segurança do local e a autorização prévia da Secretaria de Segurança pública.

Não houve nenhum tipo de confronto, pelo contrário, longas conversas foram realizadas ao longo da noite, resultando na permissão da passagem do bloco de carnaval e percussivo pelo Elevado Costa e Silva local de início e a permanência dos foliões no local, de forma restritiva ao espaço da entrada do túnel, mas com instrumentos percussivos ou música em volume baixo.

A posição oficial da PM que nos foi passada ali portanto, é que, com aviso prévio à Secretaria de Segurança Pública + autorização da prefeitura e a estrutura mínima provida por esta última, como banheiros químicos, varrição e suporte à coleta de lixo e controle do número de pessoas dentro do espaço que é um túnel e limitado, não há impedimentos maiores para a realização de eventos ali, se assim o poder público entender.

Lembramos a todos, que o Buraco da Minhoca é uma ocupação colaborativa “eventual” de um espaço público ocioso no período noturno, mas não a apropriação do local. Portanto, a realização de eventos ali é livre. A festa cancelada do Carlos Caps Lock e Seus Amigos seria um evento organizado por este coletivo/grupo e divulgada e apoiada pela página do Buraco da Minhoca, com nosso apoio colaborativo no local.

Lamentamos o ocorrido, mas gostaríamos de reiterar que a ocupação do espaço público ocioso e no caso eventual (uma vez que o túnel só é ócioso a noite) é uma construção coletiva da cidade para a cidade. Sinalizamos e entramos no local, levantamos a reflexão sobre a virtude do uso do espaço e agora temos que encontrar respostas e soluções para o bom uso e consciente.

É um diálogo no mínimo enriquecedor para todos!

Fomentar a discussão sobre o porquê a permanência do espaço público é culturalmente vista de forma hostil e marginal mesmo que seja para “dançar” e expressar-se através das artes em geral. Por quê há uma excessiva valorização de espaços privados e segregados por perfil, retirando as pessoas das ruas e a convivência entre a diversidade humana? E pensar formas de viabilizar esta permanência no espaço público da cidade, numa construção coletiva.

Enfim, todo este processo de reflexão é muito enriquecedor para todos que queiram pensar uma cidade melhor e mais humana e isso inclui naturalmente diálogos com o poder público, (Prefeitura, Governo do Estado/Polícia etc).

Tenho certeza que daqui pra frente vamos conseguir levar todas estas questões para o Governo do Estado/Polícia Militar, Prefeitura/GCM + comunidade e chegarmos ao bom senso sobre os objetivos do Buraco da Minhoca.

Abraços a todos




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