Nesta semana, veículos de mídia tiveram acesso a um relatório do setor de inteligência do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, que denunciava um esquema de fuga do PCC (Primeiro Comando da Capital). Segundo a “Carta Capital”, a facção arquitetava o resgate de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, que representa a liderança do grupo. Entretanto, a professora da UFABC Camila Nunes Dias, autora do livro PCC – Hegemonia nas Prisões e Monopólio da Violência (Editora Saraiva), duvida que um plano tão mirabolante realmente tenha sido desenvolvido pelo líder.

A reportagem de O Estado de S. Paulo sobre o caso cita que a operação contaria com um avião e dois helicópteros. Segundo o relatório, um dos helicópteros é semelhante ao modelo usado pela Polícia Militar, para que ele seja confundido ao pousar na Penitenciária-2 de Presidente Venceslau, onde Marcola e outros integrantes do PCC estão presos. Durante a operação, o líder da facção, Claudio Barbará da Silva, Célio Marcelo da Silva, o Bin Laden, e Luiz Eduardo Marcondes Machado, o Du Bela Vista, serrariam suas celas e iriam em direção ao pátio interno. Eles seriam transportados através de um cesto blindado preso ao helicóptero.

“Eu duvido muito”, rebate Camila Dias. A socióloga afirma que há evidências de que a facção possua um forte arsenal de armamentos, mas, para ela, dois helicópteros e um avião são fora dos padrões. “Acho isso um plano mirabolante demais. Ao que tudo indica, o Marcola, por exemplo, possui uma capacidade muito grande de fazer ações bem planejadas. Então, eu acho que ele não seria burro de pôr em prática um plano como esse”, opina. A professora considera o esquema muito arriscado, com chances quase nulas de dar certo, mas também não descarta a possibilidade de que ele realmente fosse arquitetado.

Além disso, o simples planejamento já teve um caráter que não corresponde à inteligência de tática do grupo. “Todos esses presos estão cansados de saber que suas ligações telefônicas são monitoradas, tanto pelo MP como pela polícia”, comenta Camila. Ou seja, seria inconcebível a comunicação dos presos e dos integrantes em liberdade sem que o plano fosse descoberto. “É um amadorismo que não está de acordo com o perfil do Marcola”, relata a socióloga.

Vazamento

Desde o fim de 2013, Camila suspeita de uma série de vazamento de informações. O período atual é de muita sensibilidade política, devido às eleições de outubro. Por isso, alguns assuntos pautados pela mídia fazem parte de estratégias políticas, como seria o caso do plano de fuga de Marcola. “Você tem uma série de jogadas de interesses nos bastidores. Eu não sei quem vai tirar proveito delas, mas não tenho dúvidas que por trás do vazamento dessas informações tenha uma jogada política”, declara a professora.

Camila ainda acredita que o plano de fuga seria uma boa justificativa para encaminhar Marcola ao Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Isso porque o pedido do Ministério Público de encaminhamento foi negado pelo Tribunal de Justiça, pelo governo estadual e por forças de segurança. “Agora, se o Marcola for para o RDD, o que nós vamos ter como resposta?”, questiona a socióloga.

O Estado de S. Paulo ainda relata que três integrantes do PCC tiveram aulas de pilotagem com o copiloto Alexandre José Oliveira Junior, que agora está preso. O professor da facção é o mesmo que pilotava o helicóptero do deputado Gustavo Perrella (SDD-MG), encontrado com 450 quilos de cocaína. No entanto, Camila não considera a possibilidade de envolvimento do deputado com o PCC.