Prisão de rapper na cracolândia revolta participantes do programa De Braços Abertos

Segundo testemunhas, ele respondeu a um PM, que teria agredido verbalmente uma mulher, e foi preso por desacato

Por Rede Brasil Atual
Terça-feira, 25 de fevereiro de 2014


São Paulo – A prisão do rapper Kawex revoltou equipes de saúde e frequentadores da região conhecida como Cracolândia, no bairro da Luz, centro de São Paulo. Kawex foi levado por policiais militares na manhã de hoje (24). Ele vestia o uniforme da frente de trabalho do programa De Braços Abertos, implementado há pouco mais de um mês pela prefeitura. Segundo testemunhas, ele respondeu a um PM, que teria agredido verbalmente uma mulher, e foi preso por desacato. O programa prevê renda, moradia e assistência social e de saúde para usuários de crack na região.

Segundo o tenente William Thomaz, responsável pela base comunitária instalada na região, a informação é de que o rapper havia cuspido nos policiais. Outros dois homens também foram levados ao 77° Distrito Policial, na Santa Cecília – um sob acusação de tráfico e outro, por ter esfaqueado uma pessoa durante a confusão.

A RBA presenciou a ação. Um dos PMs entrou no "fluxo", como é chamada a concentração de usuários e traficantes, com uma arma de grosso calibre em punho à procura de um homem que carregava uma mochila.

O homem tentou correr, mas foi contido e levado para a calçada do equipamento do programa da prefeitura. Um dos policiais chegou a bater com a mochila no rosto do homem, que já estava imobilizado, e apontar uma pistola enquanto ele permanecia sentado no chão.

Ao lado, Kawex foi algemado, o que revoltou quem acompanhava. “Ele não é noia, não. Solta ele”, gritavam. Enquanto os policiais atentavam para as pessoas que pediam a libertação do rapper, o homem que deu origem à ação tentou fugir. Seis policiais o imobilizaram, um deles com uma pistola em punho.

Há exatamente um mês, Kawex conversou com a RBA e afirmou que iria usar o dinheiro obtido com a frente de trabalho para tentar se aproximar de sua família. “Ele é muito querido aqui, um artista. Muito injusto isso”, disse um dos assistentes sociais.

Participantes do programa contaram que, desde sexta-feira, a situação está mais tensa na região, com abordagens policiais violentas e muitas vezes sem fundamentos. “É assim direto aqui. Só injustiça desses vermes aí”, disse uma das usuárias, que preferiu não se identificar. “Esses policiais ficam provocando a gente, depois arrastam por qualquer coisinha”. Arrastar é sinônimo de prejudicar, na gíria usada por muitas pessoas na região, enquanto verme é como chamam os policiais. Durante a confusão, um homem esfaqueou outro e também foi levado para o 77° DP.

Segundo o tenente William, a tensão tem a ver com diminuição do volume de drogas no fluxo, graças à ação policial. “Eles estão sendo monitorados 24 horas por dia. Isso elimina o tráfico. Estamos fazendo de duas a três prisões todos os dia. A droga está mais difícil de chegar”, afirmou.

A reportagem tentou saber como foram registrados os boletins de ocorrência das pessoas levadas para a delegacia, mas sete horas depois, no fechamento desta matéria, ainda não havia essa informação.




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