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Quilombolas celebram o Luz para Todos em Eldorado
"Pessoas que não tinham geladeira hoje têm. Nós, que somos descalços, não entrávamos no Banco do Brasil, e hoje entramos"
Sábado, 22 de fevereiro de 2014
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Ditão, líder comunitário do Quilombo de Ivaporunduva, celebra as conquistas obtidas nos últimos anos pela comunidade que se ergue á margem do lindo rio Ribeira de Iguape, em Eldorado, no vale do Ribeira. “Apenas 40% tinham energia elétrica aqui. Depois do Luz para Todos, hoje tem energia elétrica e água na torneira em 100% das casas. Pessoas que só tinham um radinho de pilha hoje têm televisão. Pessoas que não tinham geladeira hoje têm. Nós, que somos descalços, não entrávamos no Banco do Brasil, e hoje entramos.”
Há algo peculiar no ar de Ivaporunduva. Na reunião com o coordenador da caravana Horizonte Paulista, Alexandre Padilha, a comunidade quilombola dá mais ênfase às soluções já obtidas que aos problemas por resolver. Ditão credita os avanços ao processo histórico aberto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010).
“Em 1995, Lula esteve aqui com a Caravana da Cidadania. Ele atravessou o rio de canoa, e a gente percebeu que passou um pouco de medo”, rememora Ditão, sob risadas. “Ele me disse ‘Ditão, se um dia eu for governo vou fazer uma ponte aqui”. Foi eleito, passou o primeiro mandato e não fez. No segundo mandato, a gente esteve com Lula, ele mostrou uma foto e falou: ‘Essa ponte ficou bonita’. Eu disse: ‘Presidente, infelizmente essa ponte não existe’”. Segundo Ditão, Lula ficou zangado com o engano, tomou providências imediatas e logo a ponte estava pronta. “Infelizmente, não deu tempo de ele fazer a inauguração.”
A perspectiva de quem vê avanços antes de atrasos marca os líderes do quilombo, mas isso não significa que eles estejam desatentos para o que ainda precisa ser conquistado. “Tem muita coisa para ser feita”, afirma Ditão, preparando terreno para a fala do próximo líder local. Zé Rodrigues também traz primeiro a parte cheia do copo, elogiando o Mais Médicos e a presença de uma profissional cubana que atende à comunidade. Zé faz piada: “O quilombo dá sorte. Todos os políticos que vêm aqui ganham eleição depois. Lula veio e ganhou. Volte mais vezes”.
A seguir, é hora de Zé abordar os desafios, que se concentram na questão ambiental da rica, delicada e preservada reserva local de mata atlântica, numa região conhecida pelas cavernas e cachoeiras que possui. “Há quatro barragens projetadas para o Ribeira de Iguape. Se construídas, as hidrelétricas vão inundar dez comunidades quiombolas. Nós não somos contra o desenvolvimento, mas ele tem que ser sustentável”.
Padilha mantém o discurso de que é preciso promover o desenvolvimento econômico – sustentável – do vale do Ribeira, uma região para ele relegada a plano secundário pelo atual governo estadual tucano. “Se há alguns anos a gente dissesse que aqui ia ter luz, internet e médco, diriam que não é verdade”, afirma, na roda formada ao lado da sala do telecentro comunitário do quilombo.
O coordenador da caravana finaliza lembrando que faz questão de incluir encontros com representantes da população negra em cada trecho do roteiro. Conta aos quilombolas que em Campinas estivemos na Fazenda Roseira, onde Padilha entrou em emocionante roda de jongo e conversou sobre acesso das populações afrobrasileiras a saúde e educação.
A caravana vai seguir; “Saio daqui com uma sorte danada, mas também com muito compromisso”, despede-se. E ainda lança um último comentário, em tom de (auto)desafio: “Lula passou um medo danado na canoa. Vocês têm que botar algum medo em mim também, para eu sair daqui com ainda mais compromisso”.