Educadores têm papel preponderante na construção da ética
Para o teólogo, educador deve formar seres humanos felizes, dignos, dotados de consciência crítica e participantes no desafio de melhorar o mundo
Terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
O teólogo Frei Betto dedicou seu comentário de hoje (17) na Rádio Brasil Atual a uma reflexão sobre a necessidade de haver um processo permanente de formação de professores, que tenha como horizonte a sua influência sobre a preparação dos indivíduos para a vida em sociedade. Frei Betto considera que um dos fatores que levaram à derrocada dos regimes socialistas na Europa foi o descuido de um preceito marxista: “O socialismo europeu teve o erro de supor que seriam naturalmente socialistas pessoas nascidas em uma sociedade socialista. Esqueceu-se da afirmação de Marx de que a consciência reflete as condições materiais de existência, e também influi e modifica essas condições”.
Segundo o comentarista, tudo o que o socialismo pretendia, e que de alguma maneira alcançara – redução da desigualdade social, emprego pleno, saúde e educação gratuitas e de qualidade para todos, controle da inflação etc. – desapareceu para dar lugar as características desumanas do neoliberalismo, no qual a pessoa é encarada não como cidadã, mas como consumidor.
“Nenhum de nós é invulnerável às seduções capitalistas, aos atrativos do individualismo, à tentação do endividamento em detrimento do sofrimento alheio e das carências coletivas. Estamos todos permanentemente sujeitos as influências nocivas que satisfazem o nosso ego, e tendem a nos imobilizar quando se trata de correr riscos e abrir mão de prestígio, poder e dinheiro”, discorre.
Para ele, a corrupção é uma “erva daninha” inerente ao capitalismo e ao socialismo. “Jamais haverá um sistema social no qual a ética se destaque como virtude inerente a todos. Se não é possível alcançar a utopia de ética na política, é preciso conquistar a ética da política. Criar uma institucionalidade política, daí a importância da reforma política no Brasil. Isso só será possível em um sistema no qual inexista a impunidade."
Nesse ambiente, o trabalho pedagógico é fonte de emulação moral para a qual os professores desempenham papel preponderante ao lidar com a formação da consciência das novas gerações. “Um professor ético, um professor progressista deve ter atitudes pautadas pela construção de uma identidade humana na qual haja adequação entre essência e existência. O papel número um do educador não é, portanto, formar mão de obra especializada ou qualificada para o mercado de trabalho. É formar seres humanos felizes.”