Caravana: Ideias de Padilha sobre segurança, abastecimento, saneamento, educação, economia

Entre a saúde e a segurança pública, o tempo urge. A aula inaugural na Unimep é encerrada após uma hora, para que a caravana possa seguir. “Temos que ir agora, senão o bispo não nos recebe mais”, sorri o coordenador

Por Pedro Alexandre Sanches - Repórter Especial
Segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014


Durante a primeira etapa da caravana Horizonte Paulista, que termina nesta sexta-feira (14)em Campinas, o coordenador Alexandre Padilha tem reiterado a necessidade da comitiva de conversar com setores mais amplos que aqueles já tradicionalmente ligados ao PT.

“Queremos construir nossa proposta de governo de modo que não seja só uma proposta do PT e dos partidos aliados. Fazemos questão de ouvir quem não necessariamente pensa como o PT, para construir soluções comuns a partir das posições diferentes de cada um”, ele afirmou na passagem pela Associação Comercial e Industrial de Americana (Acia), na quarta-feira 12.

Os encontros em associações de comerciantes e industriais têm sido um dos campos férteis para o diálogo sobre problemas cruciais do estado de São Paulo, e o encontro em Americana ilustra bem essa dinâmica. Na Acia, os empresários, organizados num Fórum de Desenvolvimento e Cidadania, prepararam perguntas específicas sobre cinco grandes grupos temáticos: segurança pública, abastecimento de água, saneamento, educação, economia. Acompanhe abaixo alguns dos argumentos desenvolvidos por Padilha na conversa.

Na área da segurança pública, a pergunta girou em torno das organizações criminosas atuantes no estado e do aparelhamento das polícias. Fala Padilha.

Atuação policial: “Temos mais de 200 mil roubos de carro por ano no nosso estado. O índice de investigações concluídas é menos que 10%. São Paulo tem o maior orçamento do país para segurança pública, até porque se trata de uma responsabilidade estadual. Temos o maior efetivo de policiais, temos mais de 100 mil policiais militares. É uma estrutura que precisa estar mais presente nas ruas, nas comunidades, com mais cooperação com as guardas municipais”.

Combate ao crime organizado: “Nos últimos anos, tem faltado coragem e energia ao PSDB para combater o crime organizado em São Paulo. Não existe a possibilidade de combater o tráfico de drogas sem cooperação com a Polícia Federal, com a Polícia Rodoviária Federal, com a proteção das divisas. Para chegar a São Paulo, a droga tem de passar pela divisa com Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná. Começamos a caravana em Igarapava, na divisa com Minas. A ponte que liga São Paulo a Minas não tem nenhuma câmara de monitoramento. São Paulo não quis cooperar para desenvolver essa inteligência nos últimos 20 anos”.

Polícias: “Os bancos de dados da Polícia Militar e da Polícia Civil de São Paulo, além de não conversarem um com o outro, não interagem com a Polícia Federal e com os outros estados. Essa coordenação é responsabilidade da Secretaria de Segurança Pública e do governador. Não se pode estimular a disputa entre as polícias. O tratamento não pode ser desigual”.

Os empresários abordaram a necessidade de maiores investimentos em saneamento e a dependência que a grande São Paulo desenvolveu pelo Sistema Cantareira de abastecimento de água.
Sistema Cantareira: “Estamos numa situação crítica. São Paulo não pode depender de São Pedro. Hoje, 80% do Sistema Cantareira vai para a região metropolitana da capital, em vez de vir para esta região, em parte porque a última obra para garantir abastecimento para a região metropolitana foi inaugurada em 1993. Em 21 anos do PSDB, nenhuma obra importante foi inaugurada. Por isso foi se utilizando cada vez mais o Sistema Cantareira para abastece a região metropolitana da capital. Nada desse sistema, que está mais próximo daqui, foi dado para esta região”.

Obras paradas: “Agora que começou o racionamento, o governo do estado está anunciando que deve entregar uma obra importante no Vale do Ribeira em 2018. Outa situação é em Campinas. Há 20 anos há dois projetos parados de barragens a ser construídas na região de Campinas.

Tratamento de esgoto: “Metade do esgoto do estado de São Paulo não é tratada. A gente precisa tratar o esgoto, para que a água possa ser reaproveitada em uso industrial, agrícola, humano. A Sabesp precisa investir mais em saneamento, tanto no abastecimento como no tratamento de esgoto. Em Campinas, 100% do esgoto é tratado, por uma obra do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), com recursos do governo federal. Limeira foi uma das primeiras cidades que fizeram uma parceria público-privada para garantir 100% de tratamento de esgoto. O governo do estado não pode ficar inibido em pegar recursos do PAC para ampliar ações de saneamento e abastecimento”.

Em educação, os comerciantes e industriais querem saber como se poderia implantar o ensino integral na rede estadual.

Políticas permanentes: “São Paulo perdeu nestes 20 anos a oportunidade de se transformar numa Xangai da educação. Xangai é uma província da China que tem os melhores resultados internacionais em educação, porque durante 20 anos se construíram ações duradouras, permanentes, contínuas. Nós tínhamos essa chance, porque por 20 anos temos sido governados pelo mesmo partido em São Paulo. Aconteceu o contrário. Éramos o terceiro estado do país em 1995 no ensino médio, hoje somos o oitavo. Hoje só 3% das escolas estaduais têm ensino integral, quando o compromisso do governo atual era de que fosse muito maior que isso” .

Século XXI, século XX: “Passamos em São Joaquim da Barra no primeiro dia da caravana, e lembrei que estive lá dois anos atrás, como ministro da Saúde, e a então prefeita me levou para conhecer uma escola municipal de ensino fundamental que estava sendo inaugurada. Ela estava toda feliz de mostrar que a escola tinha professor permanente, sem contrato precário, com educação permanente, lousa digital, acesso à internet, tecnologia de informação – uma escola do século XXI. Desta vez, uma professora veio me falar que a grande angústia do professor e das mães é ver a criança terminar o ensino fundamental na escola da prefeitura e ser entregue a uma escola estadual, onde ela não vai ter nada disso. Os professores estaduais se empenham, mas nas condições atuais é como se a criança fosse jogada de novo para o século passado”.

Mais Escolas: “Neste ano, o governo estadual sinalizou o desejo de participar do programa Mais Escolas, do governo federal, mas não houve ação concreta. O dinheiro para educação é tão valioso, qualquer dinheiro que se achar tem que ser utilizado. Educação não pode ser vista como gasto nem custo. Educação é investimento. Vocês da indústria e do comércio muitas vezes têm que fazer com o profissional o trabalho que a escola devia ter feito. Parte grande dos trabalhadores da Hyundai é de coreanos, não é da região, porque no primeiro momento os industriais tiveram receio sobre a qualificação dos nossos trabalhadores. Nosso estado precisa dar esse salto”.
O último setor abordado por Padilha é a economia. O Fórum de Desenvolvimento e Cidadania de Americana quer saber como o estado paulista pode voltar a ser atrativo para a instalação de empreendimentos.
Liderança política do governador: “Nos reunimos em Ribeirão Preto com o setor do etanol, o setor sucro-energético, e conversamos sobre como tornar nosso estado mais atrativo. O governador de São Paulo tem que assumir a liderança que só o governador de São Paulo pode ter, de defesa do seu estado. Quando era coordenador político do presidente Lula, cansei de ver o Congresso Nacional parar porque o governador do Rio de Janeiro foi lá tratar do assunto do petróleo, ou porque o governador do Espírito Santo foi tratar do problema dos portos. Estou falando de vários partidos, não é uma questão partidária. Vi o governador de Minas Gerais sair em defesa do estado no tema do código mineral”.

Guerra fiscal: “Todos nós sabemos que um dos fatores decisivos para atrair mais investimentos para São Paulo é acabar com a danada da guerra fiscal. Só a força do estado de São Paulo pode acabar com a guerra fiscal no país. O governador tem que exercer sua liderança política, não pode se acomodar ao estar governando um estado desse tamanho, um gigante que se fosse um país seria a 18ª economia do mundo. Os temas políticos precisam ser enfrentados, o governador do estado de São Paulo tem que se portar como tal”.

Transporte e mobilidade: “São Paulo tem as melhores estradas do país. O estado investiu muito nas rodovias, esse foi um salto importante. Agora, está na hora de investirmos em dois outros modais: as hidrovias e as ferrovias. Hoje nosso estado transporta 6 milhões de toneladas de grãos por hidrovias. Tem potencial para transportar 20 milhões. E, mais uma vez, perdeu a oportunidade de pegar recursos do PAC que estavam disponíveis para a hidrovia Paraná-Tietê. Hoje, chegam cerca de 80 mil contêiners ao porto de Santos por via férrea. Poderia ser 1,5 milhão de contêiners, poderia diminuir aquele trânsito na chegada de Santos. O problema do ferroanel não foi enfrentado nesse tempo todo”.

Internet, telefonia: “Temos todos os instrumentos para garantir ao empresariado um acesso à internet com banda larga estável e rápida, que facilite suas operações. O pessoal de Limeira me falou que o maior problema atual deles é a qualidade de internet e telefonia. Não podem fazer várias ações porque cai a ligação, porque a internet é ruim. O estado do Ceará montou, com recursos próprios e financiamento do BNDES, uma ampla rede de internet de banda larga rápida, acessível e mais barata. Será que São Paulo não tem condições de fazer isso? Eu acho que tem”.




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