Se Sabesp não ceder, interior vai ficar sem água

A crise no Sistema Cantareira abriu uma disputa entre comitê de bacias do interior e a companhia de São Paulo

Por Spresso SP
Quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014


O Sistema Cantareira, que fornece água para mais de 8 milhões de pessoas entre capital e região metropolitana, além de algumas cidades do interior, está em crise. O nível de água no reservatório é de 21,2%, o mais baixo em 10 anos, segundo a Sabesp.

Essa situação está trazendo consequências para algumas cidades do interior, como Campinas, que já realiza campanhas de economia de água e está aplicando multas a quem lavar a calçada com mangueira, ou Valinhos, que já raciona a distribuição de água entre os bairros. O baixo nível do reservatório também já ameaça a capital. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) informou nesta terça-feira (4) que, se não chover a partir do dia 15, vai haver racionamento também em São Paulo. A possibilidade de racionar a distribuição de água contando apenas com a chuva é uma consequência da falta de planejamento da Sabesp, que trabalha no limite de produção e demanda e não se prepara para situações de emergência, conforme defendeu o especialista em saneamento Edson Silva, em entrevista ao SPressoSP.

Agora a crise no sistema e a falta de água deve se intensificar ainda mais, tendo em vista que a situação das cidades do interior está ainda pior que a da capital e estão recebendo cada vez menos água do reservatório.

O comitê das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), rios que abastecem o Sistema Cantareira, pediram oficialmente aos governos federal e estadual uma quebra na regra do compartilhamento de água do sistema entre a Sabesp e o comitê das bacias do interior. Em situações normais, a maior parte do volume do reservatório é destinada à Sabesp e ao abastecimento da capital e a menor parte é destinada ao abastecimento das cidades do interior. Quando o volume está baixo, como agora, existe uma regra: a Sabesp retira cerca de 25 metros cúbicos por segundo enquanto 3 metros cúbicos por segundo são retirados pela PCJ.

Acontece que, destes 21,2% de volume de água que existe no sistema atualmente, 17% deles fazem parte de um banco de águas da Sabesp (uma reserva estratégica criada para ser utilizada nas épocas de seca do inverno), de onde ela já está retirando cerca de 5 mil metros cúbicos de água por segundo para a capital. Ou seja, sobram apenas 4% de volume do reservatório para serem compartilhados entre Sabesp e CPJ. Desta maneira, a Sabesp retira 5 mil metros cúbicos de água por segundo do banco reservado e mais 25 mil metros cúbicos por segundo daqueles 4% do reservatório que é compartilhado. O CPJ, então, retira apenas os 3 metros cúbicos de água por segundo da pequena parcela de 4% que resta no reservatório, enquanto a Sabesp totaliza uma retirada de 30 metros cúbicos de água por segundo para a capital entre o banco e o pouco que resta de volume comum do sistema.

O diretor executivo do Comitê das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, Luiz Roberto Moretti, explicou ao SPressoSP que o que estão pedindo, exatamente, é que a bacia reservada da Sabesp passe a ser considerada também como volume total. Assim, as cidades do interior contariam com 3 metros cúbicos de água por segundo de um total de 21% de volume de água, e não de apenas 4%. “Dessa maneira, tanto capital quanto interior contariam com 21% de reservatório para compartilhar, e não apenas 4%, no nosso caso, ou pouco mais de 17%, como no caso da Sabesp. Se o volume do reservatório baixar os 20% e não houver a quebra de regra, o interior vai ficar sem água”, explicou Moretti.

O pedido do comitê foi sugerido pelo Ministério Público Estadual na última sexta-feira (31) e será analisado pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE).

Caso o pedido seja aprovado, a Sabesp pode ter de racionar a distribuição de água para a capital mas, por outro lado, aliviará um pouco a situação do interior. “A Sabesp está usando toda a água que precisa e mais um pouco. Eles têm outros mananciais, o PCJ não”, argumentou o diretor executivo do comitê.

A Sabesp ainda não se pronunciou sobre o pedido.




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