Falta de água: a culpa é da Sabesp

Especialista em saneamento destaca a falta de planejamento da companhia

Por Spresso SP
Quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014


Já há alguns dias, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) vem realizando campanhas na mídia pela economia de água no estado. O sistema Cantareira, segundo a Sabesp, que fornece água para mais de 8 milhões de pessoas entre a capital e a região metropolitana, está com 21,7% da capacidade nos reservatórios, a menor em 10 anos.

A justificativa para essa situação, de acordo com a companhia, é a falta de chuvas no mês de dezembro do ano passado, quando choveu apenas 83 milímetros, o menor índice nos últimos 84 anos. Além disso, a Sabesp ainda associa a falta de água ao consumo intensificado no verão.

Agora, a companhia pede para que a população economize água para evitar um racionamento e anunciou até mesmo um desconto para quem aderir à economia. Quem reduzir o consumo de água, daqueles que são abastecidos pelo sistema Cantareira, contará com 30% de desconto na conta. Ontem, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) deu prazo até o dia 15 próximo para começar racionamento, caso não ocorram chuvas.

Acontece que a Sabesp diz que pode faltar água, mas na verdade já está faltando e não é de agora. É o que afirma Edson Silva, assessor de saneamento da Federação Nacional dos Urbanitários. Segundo o assessor, fala-se em racionamento, mas pouco se fala da intermitência, que é comum em diversas regiões do Estado. Silva destaca que, principalmente a população da periferia, convive diariamente com a falta de água em vários momentos do dia ao longo do ano todo.

Para o especialista, a Sabesp e, principalmente, a imprensa, devem parar de culpar a população pela falta de água e pelo nível das reservas da Cantareira. “A culpa não é da dona Maria lavando a calçada com mangueira, como mostram as fotos dos jornais, mas sim da companhia. É claro que tem que haver economia, uso consciente, mas não se pode colocar a culpa na população”.

Edson afirma que a principal causa para o problema da água é a falta de planejamento da empresa. Segundo o especialista, o que a Sabesp produz de água é exatamente o limite da necessidade da demanda, e que não produz nada a mais como reserva para situações como a que estamos vivendo. “A Sabesp ‘produz’ cerca de 60 mil litros de água por segundo para a capital e região metropolitana. Isso é o limite da capacidade e também o limite da demanda. Aí é óbvio que qualquer problema que fuja da normalidade vai desencadear a falta de água para abastecimento”, disse o assessor, que ainda destacou que “essa campanha de economia na mídia deveria ter começado antes. Já existe um processo de falta d’água. Ela diz que vai faltar água, mas já falta. Não tem planejamento”.

O que Silva defende não é que a Sabesp deixe de fazer campanhas de economia, mas que essas campanhas sejam atreladas a um planejamento prévio em relação às reservas e ao abastecimento para que, em situações atípicas, a população não seja penalizada e muito menos culpada. “A Sabesp não pode continuar trabalhando no limite da demanda e da produção”, revela.

Um outro aspecto, que também faz parte da falta de planejamento e que é um dos principais fatores que influenciam na falta de água em situações como essa, segundo o especialista, é a perda de água por parte da companhia. Edson revelou que a Sabesp, a cada 100 litros de água produzidos, perde 30. Essa perda é tanto de faturamento (relógios com problema, que não registram o consumo de água) quando física, que é quando há perda concreta de água nos sistemas de abastecimento. “É preciso investir na redução de perdas. Já existe um trabalho deste tipo sendo realizado mas é insuficiente”, afirmou Silva.

Quanto às possíveis soluções para o problema da falta de água no Estado, o assessor foi direto: “A Sabesp tem que buscar novas fontes de abastecimento de água para a região metropolitana. Onde são essas fontes é a própria Sabesp que tem que dizer, e não simplesmente associar o problema a falta de chuvas ou culpar a população. Isso faz parte do planejamento. O problema é que hoje a população cresce, o consumo aumenta e a produção continua a mesma”, concluiu.




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