França conduz primeiro julgamento de genocídio em Ruanda

Entre abril e julho de 1994, cerca de 800 mil pessoas foram mortas no massacre

Por Agência Brasil
Terça-feira, 4 de fevereiro de 2014


Após 20 anos do genocídio de Ruanda, um dos envolvidos começará a ser julgado hoje (4) na França - país acusado de ter apoiado o regime considerado responsável. Pascal Simbikangwa, 54 anos, paraplégico devido a um acidente em 1986, é julgado sob o princípio da jurisdição universal da Justiça francesa, que lhe permite sentenciar pessoas procuradas por crimes contra a humanidade cometidos no exterior. Entre abril e julho de 1994, cerca de 800 mil pessoas foram mortas no massacre.

O ex-capitão ruandense pode chegar a ser sentenciado à prisão perpétua. O julgamento será filmado e deve durar entre seis e oito semanas. Simbikangwa é acusado de cumplicidade no genocídio e em crimes contra a humanidade, de ter incitado, organizado e contribuído para a realização de massacres da população de Ruanda da etnia Tutsi, diferententemente da sua, Hutu. O ex-capitão teria organizado e armado milícias para realizar os crimes de limpeza étnica.

O acusado, que nega as imputações, apresentou-se à Justiça com o nome David Snyamuhara Safari, sob o qual foi detido em 2008 na ilha francesa de Mayotte, na Costa Sudoeste da África, próximo a Moçambique. Ele confirmou ter sido capitão no Exército ruandês e depois nos serviços de informação, mas nega ter cometido os crimes.

As duas primeiras semanas do julgamento serão dedicadas a determinar o contexto que levou ao massacre de centenas de milhares de pessoas pelas milícias em Ruanda, doutrinadas e armadas pelo regime do presidente da etnia Hutu, Juvenal Habyarimana, assassinado em abril de 1994 em atentado contra o avião em que viajava. O episódio desencadeou a crise que levou ao genocídio.

O Tribunal ouvirá cerca de trinta de testemunhas ruandesas, algumas das quais condenadas pelo Tribunal Penal Internacional para Ruanda - criado em 1994 pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas e pela Justiça ruandesa. Algumas testemunhas prestarão depoimento por videoconferência, outras, viajarão para testemunhar.

“A história está em marcha. Sempre nos questionamos porque levou 20 anos. É tarde, mas é um bom sinal”, disse o ministro da Justiça de Ruanda, Johnston Busingye.

“Finalmente esse julgamento começa. É ao mesmo tempo um alívio e uma preocupação enfrentá-lo”, disse o presidente do Coletivo das Partes Civis para Ruanda, Alain Gauthier.




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