Falta de água: Sabesp não pode contar apenas com São Pedro

Ausência de investimento para aumentar a captação de água, como a preservação dos mananciais, está na raiz do problema

Por Igor Felippe/ Escrevinhador
Terça-feira, 4 de fevereiro de 2014


A Sabesp, companhia de abastecimento de água de São Paulo, lançou um comunicado para a população de São Paulo nesta semana, pedindo que economize água. A população está ameaçada de ficar sem abastecimento, porque o Sistema Cantareira, na Região Metropolitana, está com o nível mais baixo dos últimos 10 anos.

A empresa alega que o principal motivo para o baixo nível do sistema – que cobre os rios Jaguari, Jacareí, Cachoeira, Atibainha e Juqueri (Paiva Castro) – é o baixo volume de chuva. A chuva ficou 70% aquém do esperado no ano passado, mantendo a mesma tendência em 2014. Além disso, a companhia afirmou que não adianta aumentar as chuvas, porque não é possível represar a água.

“A falta de água é consequência da ausência de investimento da empresa, que não atende à necessidade”, afirma Rene Vicente dos Santos, presidente do Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo), que representa os trabalhadores da Sabesp.

Com a queda do nível de água no sistema Cantareira, 8 milhões de pessoas estão ameaçadas de ficar sem água nas zonas norte, leste, oeste e central de São Paulo, Franco da Rocha, Francisco Morato, Caieiras, Osasco, Carapicuíba e São Caetano do Sul, além de parte dos municípios de Guarulhos, Barueri, Taboão da Serra e Santo André.

Segundo o presidente do Sintaema, a diretoria da Sabesp tem direcionado no último período os investimentos para aumentar o número de consumidores, ampliando o lucro com o serviço. Por isso, a prioridade é a operação no litoral do Estado e a ampliação da rede de abastecimento, além da limpeza do Rio Tietê.

Rene avalia que esses projetos são necessários, mas afirma que a falta de investimento para aumentar a captação de água, como a preservação dos mananciais, está na raiz do problema de falta de água.

Ele afirma também que a Sabesp não faz os investimentos necessários no quadro de trabalhadores, priorizando a terceirização. Atualmente, a empresa tem 15 mil trabalhadores diretos, enquanto mais de 20 mil trabalhadores prestam serviço como terceirizados. Para o sindicalista, as dificuldades de qualificação e fiscalização do trabalho dos terceirizados impõe uma queda na qualidade dos serviços.

Os recursos levantados pela prestação de serviço da empresa, que tem capital misto, estão voltados para o governo do Estado de São Paulo e para os acionistas privados com ações em bolsas da valores financeiros. “A maior parte do recurso da Sabesp é destinado para o lucro do governo e dos acionistas. Com isso, não é feito investimento para manter e qualificar o trabalho da empresa”, critica Rene.

Em 2002, a Sabesp passou a vender ações nas bolsas de valores de Nova York e São Paulo. Do capital da empresa, 50,3% pertencem ao governo, 24,9% vêm dos acionistas da Bolsa de Nova York e 24,8% é feita a partir da BM&FBovespa.

A Sabesp terminou o terceiro trimestre de 2013 com lucro líquido de R$ 475 milhões, que representa uma aumento de 31,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. No acumulado do ano, contando até o terceiro trimestre, o lucro cresceu 16,3%, para R$ 1,332 bilhão.




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