Às vésperas da eleição, ex-embaixador dos EUA diz que não é preciso "temer" esquerda salvadorenha

Em artigo no NYT, William G. Walker diz que, se a maioria escolher a FMLN, norte-americanos devem respeitar a escolha

Por Opera Mundi
Quinta-feira, 30 de janeiro de 2014


El Salvador elegerá no domingo (02) seu próximo presidente. No entanto, para o diplomata aposentado norte-americano, William G. Walker, parece que a direita dos EUA é quem está mais preocupada com as eleições. A questão que preocupa os republicanos é que nas últimas pesquisas de opinião pública quem liderou as intenções de voto foi o vice-presidente Salvador Sánchez Cerén, candidato do partido do atual chefe de Estado do país, Mauricio Funes. Não por acaso, ele faz parte da guerrilha esquerdista FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional).

De acordo com um artigo publicado por Walker no The New York Times nesta quinta-feira (30/01), o principal responsável pelo alarde foi outro diplomata norte-americano, Elliott Abrams, que trabalhou durante os governos dos republicanos Ronald Reagan e George W. Bush. No início do mês, Abrams escreveu um artigo no The Washington Post, alertando sobre "os perigos" da vitória da FMLN. No veículo, ele cita as conexões do partido esquerdista com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e seus envolvimentos com tráfico de drogas e armas.

Entre 1980 e 1992, El Salvador manteve uma guerra civil entre os guerrilheiros da FMLN e o governo militar, financiado pelos EUA, que temia a expansão comunista. Durante 12 anos, morreram cerca de 75 mil pessoas e outras 8 mil desapareceram. Nos últimos três anos e meio de guerra, William G. Walker serviu como embaixador norte-americano no país e observou de perto o conflito salvadorenho. “Trabalhei muito próximo ao senhor Abrams e respeito sua honestidade, mas acredito que ele esteja errado neste caso”, escreveu o diplomata. “Eu vi o quanto o país e a FMLN mudaram nos 22 anos desde o fim da guerra. Acredito que essa onda de medo está presa ao passado”, completa.

Uma das questões em jogo para o receio dos republicanos reside no fato de que Sánchez é considerado um representante mais ortodoxo da guerrilha. Sua campanha promete um esforço mais rigoroso em combater os problemas sociais do país, como a desigualdade e a injustiça social, frutos dos anos da guerra civil. Contudo, Walker mantém-se tranquilo.

“Estamos em 2014, não em 1992. Ele e seu partido receberam uma oportunidade justa de deixar a decisão nas mãos dos eleitores salvadorenhos”, afirma. “Quando os americanos demonizam comandantes como senhor Sánchez – tanto por suas atividades durante a guerra quanto por ter aceitado ajuda de Fidel Castro ou Hugo Chávez – eles estão cometendo um grande erro”, acrescenta.

Para o diplomata aposentado, ambos os lados usaram o “terror” durante a guerra civil, mas as forças do governo e as milícias da direita foram de longe mais “promíscuas”. Por isso, é preciso compreender os dois posicionamentos. “Os EUA deveriam prestar bastante atenção nas eleições? Sim. Mas eles não devem temer a possibilidade de mais cinco anos de governo da FMLN. Se a maioria concordar que a vitória da guerrilha é melhor para eles, nós devemos respeitar esta escolha”, finaliza.




Diretório Estadual de São Paulo do Partido dos Trabalhadores
Rua Abolição, 297, Bela Vista - 01319-010 - São Paulo - SP
Telefone (11) 2103-1313

Licença Creative Commons Esta obra foi licenciado sob CC-Attribution 3.0 Brazil.
Exceto especificado em contrário e conteúdos replicados.