Conheça a história do Cine Belas Artes

Artigo escrito pelo cineasta Toni Venturi conta a história do tradicional cinema, cuja reabertura será anunciada na noite desta terça-feira

Por Toni Venturi, cineasta
Terça-feira, 28 de janeiro de 2014


O Belas Artes, na Consolação com avenida Paulista, é um dos mais antigos cinemas de São Paulo. E junto com o Cine Bijou da Praça Roosevelt, onde hoje está instalado o Espaço Parlapatões, foi um dos templos da cinefilia paulistana dos anos 70.

Na contramão do circuito comercial, sempre dominado pelas distribuidoras americanas instaladas no Brasil desde os anos 20, o Belas Artes ofereceu nas décadas de 60, 70 e 80 um cardápio diversificado de filmes europeus ao público local de classe média, que procurava e encontrava no cinema um meio de “pensar” o mundo, que passava por transformações profundas.

O cinema foi inaugurado em 1943 com o nome de Cine Ritz. Cinco anos depois, em 1948, passou a ser chamado de Cine Trianon. No ano de 1967, o local foi batizado de Cine Belas Artes, como é conhecido até os dias de hoje.???

Durante a ditadura, foi um bastião da resistência intelectual contra a censura que pairava no país. Os filmes mais radicais de Godard, Pasolini, Fassbinder, Herzog, Ruy Guerra e Glauber Rocha eram um prato cheio para uma juventude sequiosa de liberdade e oprimida.

Em 1982 o cinema sofreu um grande incêndio. As chamas destruíram as instalações de duas salas do local. Foram encontrados na gerência, no primeiro andar, um maçarico e um cofre com sinais de arrombamento, o que levou a polícia a suspeitar que o incêndio foi criminoso. Inquérito nunca concluído.

Em 1983, o cinema passou para a gestão do grupo Gaumont Belas Artes, solitária distribuidora internacional francesa que competia no mercado mundial com as americanas, e responsável pela produção dos filmes de Fellini e Antonioni. Mas os anos 90 vieram, a ditadura se foi, o Belas Artes entrou em decadência.

Em 2004 o cinema foi reaberto pelo cineasta André Sturm, egresso do cineclube da Fundação Getúlio Vargas, em parceria com a produtora O2 de Fernando Meirelles, com o apoio do banco HSBC. Como cinema de repertório passou a integrar o circuito de arte da cidade, hoje o maior e mais sofisticados circuito de salas de cinema de arte das Américas, incluindo Nova York.

Uma das características inusitadas do cinema nesta última fase foi a longa permanência em cartaz de alguns filmes amados pelo público. O filme 2046 - Os Segredos do Amor (2004), do chinês Wong Kar Wai, esteve em exibição no Belas Artes por anos. O argentino O Filho da Noiva, de 2001, ficou em cartaz por um ano e meio no Belas Artes. Mas o campeão de longevidade foi Medos Privados em Lugares Públicos, que ficou mais de três anos em cartaz.

Em 2010 o banco resolve não renovar o patrocínio. Em fevereiro de 2011 o cine Belas Artes foi fechado, apesar dos protestos da população e das gerações que “fizeram a cabeça” na salinha escura do cinema Belas Artes.

Dois meses serão gastos em reformas e em março de 2014 as salas deverão estar em funcionamento. A reabertura do Belas Artes pela Prefeitura paulistana, junto com a Caixa Econômica Federal, é um ato de grandeza construído a muitas mãos, que contempla a mobilização social e contribui para garantir o acesso à cultura como valor público.




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