Oito jornalistas são presos no Chile durante protesto contra venda de jornal estatal

Horas depois da detenção dos jornalistas, o governo chileno anunciava a conclusão da venda do diário “La Nación"

Por Opera Mundi
Terça-feira, 28 de janeiro de 2014


Enquanto a maioria dos chilenos acompanhava a leitura do veredito da Corte Internacional de Justiça de Haia, que definia os limites marítimos entre Chile e Peru, um grupo de pouco mais de cinquenta jornalistas ocupava o edifício da Empresa Jornalística La Nación, em protesto contra a privatização da empresa, que se realizou também na manhã desta segunda-feira (27).

A manifestação foi desocupada rapidamente por ação dos Carabineros (polícia militarizada chilena), que prendeu oito jornalistas que participavam da ocupação, entre eles Nancy Arancibia, presidente da Associação de Jornalistas do Diário La Nación, e Javiera Olivares, vice-presidente do Sindicato de Jornalistas do Chile. Os outros jornalistas detidos foram Rodrigo Pizarro, Carlos Salazar, Daniel Giacaman, Claudio Silva, Rodrigo Chacón e Esteban Garay.

Horas depois da detenção dos jornalistas, o governo chileno anunciava a conclusão da venda do diário “La Nación”, que deixa de ser estatal. A proposta vencedora do leilão foi uma iniciativa ligada ao nome de Macarena Duarte. Jornalistas ligados ao periódico dizem ter investigado a proposta e descoberto que a mulher seria uma advogada representando a empresa Novoa y Compañía, dedicada à assessoria de contabilidade.

Através da sua conta no Twitter, a jornalista Nancy Arancíbia disse que “o diário ‘La Nación’ foi vendido apesar de Piñera ter prometido em campanha que não faria isso, e apesar de os parlamentares que o apoiam terem dito estar do lado dos jornalistas. Ou eles são muito cínicos ou o presidente decidiu isso sozinho, sem dar maiores explicações”. Também através de Twitter, a entidade que ela preside divulgou uma foto onde ela e outros dois jornalistas presos leem na delegacia a notícia oficial da venda do jornal, através dos celulares.

Como tem feito desde que começou o processo de privatização da empresa, a Secretaria de Comunicação do Palácio de La Moneda apenas informou as cifras e os dados a respeito da venda, sem declarações de figuras ligadas ao governo a respeito do tema, como costumam ser os demais comunicados oficiais.

A história do La Nación

Fundado em 1917, pelo jornalista e político Eliodoro Yañez, o Diário La Nación é um dos mais antigos do país, e pertence ao estado de Chile desde 1927, quando foi estatizado pelo então presidente Carlos Ibañez del Campo, servindo como veículo da ditadura que se instalou.

Após o fim daquela ditadura, o diário continuou em mãos do estado, mantendo a função de diário oficial, até que, em setembro de 1973, o início de outra ditadura, a do general Augusto Pinochet, interrompeu sua circulação. Porém, nos anos 80, Pinochet relançou o jornal, recuperando seu caráter noticioso e utilizando-o como voz apoiadora do governo.

Com o retorno da democracia, a empresa passou a ser administrada nos mesmos moldes do canal de televisão estatal TVN (Televisão Nacional do Chile, o mais assistido do país), por uma junta de pessoas nomeadas pelos partidos políticos com representação parlamentária. Em 2009, o então candidato Sebastián Piñera prometeu que, se eleito não venderia o diário estatal, desmentindo alegações dos jornalistas da empresa feitas contra ele em campanha.




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