Tem algo de errado

Faltam também os devidos compromissos e responsabilidades do poder público em olhar o jovem com mais atenção e prioridade, criando as devidas condições e políticas públicas para que a juventude, inclusive a da "periferia", tenha opções culturais e de lazer ao seu alcance

Por Alencar Santana Braga
Quarta-feira, 15 de janeiro de 2014


A juventude é uma fase da vida que quem já passou por ela tem vontade de voltar. É um momento extraordinário da nossa vida. Dúvidas, sonhos, perspectivas de um mundo feliz e sempre bom, experiências novas, curiosidades. Fase de conhecimento e de construção de nossa identidade. Momento em que todos querem ser "alguém". Ao mesmo tempo, é uma fase também de pressão e cobrança por parte da família, dos amigos e da sociedade. Estes nos querem perfeitos.

A juventude quer ser tudo. Ela ainda pode. Mas parece que tem algo de errado.

É sabido por todos que para resolvermos um problema, primeiro devemos conhecê-lo, sob pena de aplicarmos soluções erradas.

Estamos acompanhando pelo noticiário, desde o final do ano passado, o chamado "rolezinho" nos shoppings de São Paulo. Encontro de jovens da periferia nos shoppings para escutar música, conversar, para "dar um role" e paquerar.
Será que há algo de novo? Todos gostamos de nos encontrarmos com nossos amigos e a juventude mais ainda. Os jovens sempre gostaram de estar com "os seus".

Qual o problema então nos "rolezinhos"? Será que é caso de polícia? Creio que não. Parece que uma parte da sociedade está com medo daqueles garotos da "periferia", que se vestem de um jeito diferente, que escutam uma música “esquisita e feia” - também tenho minhas preferências - e que se comportam ainda de uma maneira própria.

Mas o que querem aqueles jovens? Acredito que querem opção de lazer, de cultura, esporte, espaço para se encontrarem, paquerarem e fazerem o que todos jovens gostam. Eles querem "ser gente".
O pior não é parte da sociedade achar estranho. O pior é o Estado agir e tratar aquela moçada como marginais, como caso de polícia, usando da violência para impedir que adentrassem nos shoppings, "as fortalezas de segurança" dos grandes centros.

Ora, mas não são os shoppings espaços públicos? De livre circulação das pessoas? Se não são, por que então a força policial para protegê-los? Parece que alguém abusou.

O mais incrível foi um juiz conceder uma ordem judicial impedindo os adolescentes e jovens de entrarem nos shoppings. Olhem só, impedir de entrarem nos shoppings, os espaços perfeitos para compras e que procuram sempre trazer o público jovem para suas lojas.

Tem algo de estranho. Será que não está faltando sensibilidade, compreensão, tolerância e capacidade de diálogo para resolvermos nossos problemas? A violência só tende a piorar as coisas e gerar mais conflitos.
Faltam também os devidos compromissos e responsabilidades do poder público em olhar o jovem com mais atenção e prioridade, criando as devidas condições e políticas públicas para que a juventude, inclusive a da "periferia", tenha opções culturais e de lazer ao seu alcance.

* Alencar Santana Braga é advogado, deputado estadual pelo PT/SP e coordenador da Frente parlamentar em defesa da juventude.




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