Moradores ainda cobram indenizações por danos causados por obra de Metrô em SP
Obra de estação em Pinheiros não deixou somente a triste memória do acidente de 12 de janeiro de 2007, em que morreram sete pessoas. Famílias aguardam indenização, em banho-maria no TJ paulista
Terça-feira, 14 de janeiro de 2014
Rachaduras, desníveis no piso, reboque caindo, azulejos soltos e até escoramento do teto. Moradores do entorno da estação Pinheiros da Linha 4 - Amarela do Metrô paulistano, na zona oeste da cidade, brigam na Justiça, desde 2007, para ser indenizados pelo Consórcio Via Amarela e pelo governo estadual por conta dos danos em suas casas. Eles afirmam que os problemas começaram em 2006 e foram causados pela construção e pelas inúmeras explosões que dizem ter ouvido – e sentido – durante o período das obras.
Logo na chegada à casa da bióloga Zelma Fernandes Marinho é possível notar que a sacada do andar superior está inclinada para a frente. Apesar das vigas que seguram a estrutura, a sacada está se separando das paredes da casa, tendendo a cair para frente, sobre a garagem – e sobre o carro. Ela mora há 18 anos na rua Amaro Cavalheiro, aproximadamente a 300 metros de onde passa a linha do Metrô.
Dentro da casa há rachaduras em todas as paredes e a porta da sacada não fecha mais. “Procuramos o consórcio e o Metrô desde que as primeiras trincas surgiram. Eles sempre desconversaram. Alegaram que podia ser o estouro de escapamento das motos, a trepidação dos veículos na rua, o fato de a casa ser velha. Mas como essas coisas fariam isso?”, questiona Zelma, mostrando a rachadura ao lado da janela da sala.
A Linha 4 - Amarela do Metrô de São Paulo começou a ser construída em setembro de 2004 pelo Consórcio Via Amarela, formado pelas empreiteiras Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez. A previsão era de que fosse entregue em 2008. No entanto, as duas primeiras estações – Faria Lima e Paulista – foram abertas somente em 25 de maio de 2010.
Até agora, são somente cinco paradas operam: Luz, Pinheiros, Butantã e as duas outras citadas. As estações Oscar Freire, Fradique Coutinho e Higienópolis-Mackenzie estão prometidas para este ano. São Paulo-Morumbi e Vila Sônia não têm previsão de entrega.
A moradora ressalta que, diferentemente do que sempre afirmaram o Metrô e o consórcio, foram realizadas explosões, sobretudo de madrugada. “Era sempre às 2h e às 4h da manhã. Praticamente todos os dias, desde 2005. A casa sacudia, as portas e as janelas vibravam”, conta Zelma, que vive com a filha Roberta Marinho, de 30 anos, e a neta Victória, de 7.
Um dos quartos foi interditado pela prefeitura, após o acidente de 12 de janeiro de 2007, em que morreram sete pessoas, e assim está até hoje. Mas a bióloga tem um laudo independente, feito pela empresa Dexter Engenharia, com o resultado de vistorias realizadas na casa em 9 de outubro e 27 de novembro de 2006. As causas possíveis das rachaduras seriam trepidações e movimentação do solo. “A cratera, infelizmente, foi o resultado de algo que vínhamos avisando havia tempo: algo estava errado na construção”, afirma a bióloga.
Segundo Zelma, todas as casas da rua e das travessas dela tiveram algum problema. Mas as pessoas tinham medo de reclamar. Acabaram por assumir o problema e reformar as casas por conta própria. Porém, passado algum tempo, as trincas reapareceram, como é o caso da dona de casa Sueli Aparecida Brandina, que mora há 60 anos no número 53 da rua Pascoal Bianco.
A casa dela está inclinada para a direita, convergindo com a casa vizinha, na qual o batente da porta de entrada não deixa dúvidas da instabilidade do solo. Dentro da residência, inúmeras rachaduras dividem as junções de paredes, colunas e lajes. O piso está visivelmente desnivelado, causando desconforto ao andar pela casa.
“O consórcio definiu que as indenizações seriam pagas somente para danos a até 50 metros da obra. Ora, se a gente sentia tremer aqui, como que a construção não pode ter afetado as nossas casas?”, indigna-se Sueli. Na despedida, ela mostrou o batente da entrada, que teve de ser esculpido para a porta continuar encaixando nele.
Sueli e Zelma ingressaram com ação conjunta na Justiça, com apoio da Defensoria Pública, exigindo indenização do consórcio, em 28 de março de 2007. A ação está sob responsabilidade da juíza Luciana Bassi de Melo, da 5ª Vara Cível do Foro Regional Pinheiros, e ainda não há previsão para julgamento.
O caso mais trágico é o do subgerente da praça de atendimento da Subprefeitura de Pinheiros, José Roberto Romero, de 56 anos. Deficiente físico, ele não pode voltar para a casa, na mesma rua de Sueli, porque ela foi condenada pela Defesa Civil, após o acidente de 2007. Desde então vive daqui para ali, dali para lá, dependendo de amigos que o abrigam.
Roberto escorou todo o teto no corredor que liga os quatro cômodos da casa para que ele não caia. As trincas são enormes e separam as paredes tanto do teto quanto do piso. O forro da cozinha desmoronou, segundo ele, poucos minutos após uma explosão ser sentida. A casa era dos pais dele, já falecidos. Ele vivia no local há 30 anos.
“Que mais posso fazer? Espero que Deus ajude e que a justiça seja feita. Minha vida ficou arrasada e eles (Metrô e Consórcio Via Amarela) nunca se importaram. Só quero minha casa de volta”, disse Roberto. A ação judicial dele é individual e data de 9 de abril de 2007. Está sob responsabilidade do juiz Eduardo Tobias de Aguiar Moeller, da 2ª Vara Cível do Foro Regional de Pinheiros, sem previsão de julgamento.
A empreiteira Odebrecht, que lidera o Consórcio Via Amarela, e o Metrô responderam apenas que aguardam decisão judicial sobre o caso.