Adolescentes representam 23% das grávidas em Santo André
Cidade iniciou ontem (9) atendimento no ambulatório pré-natal específico para jovens grávidas
Sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
A prefeitura de Santo André, no ABC paulista, iniciou ontem (9) atendimento exclusivo para adolescentes no ambulatório pré-natal, no Centro de Saúde Escola, no Parque Capuava. No ano passado, a cidade teve 983 gestantes adolescentes com idades entre os 10 e 19 anos. O número representa 22,8% do total de grávidas do município em 2013 (4.308) e está acima da média nacional, que, de acordo com o último levantamento disponível do IBGE, foi de 17% em 2012. A maioria das gestantes é de regiões pobres e socialmente vulneráveis, como Vila Luzita, Jardim Irene e Alvorada.
Além do atendimento a grávidas entre 12 e 18 anos, também serão abordados os aspectos sociais das adolescentes, como evasão escolar, planejamento familiar – para que a segunda gravidez não seja acidental – e cuidados gerais com o recém-nascido. “A gravidez na adolescência pode ser um caminho para se perder e esta é a oportunidade de ajudá-las a não parar suas vidas. O foco não é apenas saúde, mas social”, afirmou Gustavo Joseph Camargo, médico obstetra do Centro de Saúde Escola.
As jovens contam com o apoio de especialistas como hebiatra (médico que cuida de adolescentes), nutricionista, psicólogo, assistente social e dentista. “A consulta é mais demorada porque, além de pesar e ouvir os batimentos, pergunto sobre o pai do bebê, religião, amigos, escola, entre outros temas”, reforçou Camargo.
O serviço, realizado das 8h às 17h, sempre às quintas-feiras, terá capacidade inicial de 16 consultas diárias, o que representa de 64 a 80 grávidas mensais. O agendamento é realizado pelas próprias unidades de saúde. “A cada consulta, as adolescentes irão assistir a palestras sobre amamentação, parto, evasão escolar e planejamento familiar. E na ficha médica ficará marcado se ela compareceu ou não”, explicou José Carlos de Araújo, coordenador da Saúde da Mulher de Santo André.
De acordo com Rita de Cássia Jaimez, encarregada técnica do Centro de Saúde Escola, as palestras também são realizadas nas demais unidades de saúde, mas as jovens se sentem desconfortáveis em participar. “Em um grupo comum, as adolescentes não se abrem e sentem vergonha. Aqui se soltam, perguntam, trocam experiências e é mais fácil trabalhar”, disse.
Susto e prevenção
Grávida de seis meses, Vanessa Rodrigues Nascimento, 16 anos, afirma que se sentiu assustada quando descobriu que teria um filho. “Chorei muito, pois sabia que seria difícil. Mas depois lembrei que minha mãe também engravidou aos 16 anos, e isso me deu força para encarar a situação”, comentou.
A gravidez foi descoberta após Vanessa se separar do namorado e deixar o Piauí para trabalhar em Santo André. “Fiquei dois dias sem tomar o anticoncepcional. É a única explicação que encontro para a gravidez”, recordou. Mesmo antes de engravidar, a jovem havia parado de estudar na 8ª série do ensino fundamental. Mas, após iniciar as consultas no Centro de Saúde Escola, já pensa em retomar os estudos. “Quero voltar ainda neste ano”, planeja.
‘Quase morri’
A dona de casa Jeane Alves Costa, 41 anos, disse que quase morreu quando descobriu que a filha caçula Juliane Costa Santos seria mãe aos 16 anos. “Eu e meu marido ainda estamos assustados com a notícia. Até porque fui mãe aos 18 anos e não queria que minhas filhas fossem mães cedo”, comentou.
Estudante do 3º ano do ensino médio e do ensino técnico do Senac, Juliane ficou grávida após quase três anos de relacionamento. “Sempre usava camisinha, mas às vezes rolava sem”, lembrou.