Passeio a pé conta curiosidades e refaz primeiros anos de Marx em Londres

"Karl Marx The Walking Tour" percorre bairro londrino do Soho e detalha amizade do filósofo alemão com Friedrich Engels

Por Opera Mundi
Quinta-feira, 26 de dezembro de 2013


O ponto de encontro é Piccadilly Circus, um dos locais com maior movimento de turistas em Londres e onde grandes letreiros de LED mostram propagandas de gigantes como Coca-Cola, Samsung e McDonald’s. Às 11 horas de um domingo, o grupo que se reuniu para mais um “Karl Marx The Walking Tour” caminha para a esquina da Archer Street com a Great Windmill Street, a menos de dois minutos dali. O “walking tour” é um passeio a pé pelas ruas do bairro londrino Soho com o objetivo de revisitar lugares onde o filósofo alemão morou e frequentou na segunda metade do século XIX.

Na primeira parada, o guia Mick Brooks, economista com mestrado em política econômica, mostra o prédio onde, em 1847, funcionava o Red Lion Pub. Foi ali que, durante reunião que incluiu Karl Marx e Friedrich Engels, O Manifesto Comunista foi encomendado. Hoje, funciona no local uma das unidades do Be at One, uma rede de bares especializados em coquetéis com filiais por toda a Inglaterra.

Em frente ao bar, Brooks conta detalhes sobre os primeiros anos de vida de Marx, na Alemanha, fala da sua conversão ao cristianismo por conveniência e, em seguida, leva o grupo para o próximo endereço, um prédio na Rupert Street onde os refugiados da Comuna de Paris buscavam abrigo na década de 1870.

Ao longo do passeio, o guia alterna detalhes do dia a dia de Marx em Londres, mas também discorre sobre a vida e a relação dele com Engels, além de curiosidades sobre a história londrina. Uma delas é a reprodução de uma antiga bomba de água na altura do número 33 da Broadwick Street. O guia conta que foi um médico chamado John Snow — que dá nome ao pub na esquina — quem descobriu que a fonte era a responsável pela epidemia de cólera que assolava Londres e que também deixou a família de Marx doente.

Durante a caminhada pelo Soho, Brooks conta que, no século XIX, o bairro era notadamente ocupado por operários em busca de acomodações baratas e também era ponto de prostitutas. Às vezes, fica a impressão de que o “walking tour” anda em voltas pelo bairro, mas a intenção do guia é dar uma ordem cronológica à peregrinação de Marx e sua família, que mudavam frequentemente de moradia.

Uma delas foi o antigo German Hotel, na Leicester Street, onde hoje funciona um restaurante. Brooks detalha que essa foi a primeira moradia de Marx quando ele se mudou de vez para Londres com a mulher, Jenny, três crianças e uma criada, em 1849. A família foi expulsa três meses depois por falta de pagamento. “Marx e dinheiro não costumavam se encontrar”, comenta o guia, em tom de brincadeira.

A moradia seguinte da família Marx era dividida entre três quartos de um prédio na Dean Street. Uma pequena placa no segundo andar diz que Karl Marx viveu ali entre 1851 e 1856. Foram anos difíceis, conta o guia, em que o filósofo alemão tentava ganhar dinheiro como jornalista e precisou da ajuda financeira do amigo Engels para sobreviver. Brooks conta que os recursos de Engels vinham do seu lado capitalista, já que seu pai era sócio de uma empresa em Manchester, e ele trabalhou lá para ter dinheiro suficiente para poder prosseguir com a causa.

Última parada

O passeio ainda passa pelo pub The White Hart, na Drury Lane, um dos mais antigos de Londres e que já funcionou como ponto de encontro de revolucionários marxistas. A última parada é o British Museum. Brooks conta que logo que foi inaugurado, o museu tinha uma grande biblioteca, com um exemplar de cada livro já publicado, e era para lá que Marx ia para pesquisar e escrever O Capital.

“Marx era um perfeccionista, uma pessoa que começava, mas raramente terminava por conta da busca pela perfeição”, conta Brooks, em frente ao museu. “E tinha uma péssima caligrafia. Engels teve maus momentos para decifrar o que Marx queria dizer em cada manuscrito”, completa, arrancando risos do grupo.

O “Karl Marx The Walking Tour” conta com mais de 70 avaliações no site colaborativo Trip Advisor, uma das principais referências para turistas, com análises opinativas sobre desde a qualidade de hotéis a atrações turísticas pelo mundo. Todas as avaliações consideram o passeio “excelente” ou “muito bom”. Até a publicação desta reportagem, não havia nenhuma avaliação negativa.

Os passeios são realizados em inglês, a cada domingo desde abril de 2012, e duram duas horas e meia. Faça chuva ou sol, seja verão ou inverno, Mick Brooks e o outro guia Heiko Khoo saem pelas ruas do Soho levando admiradores ou curiosos da obra de Marx por endereços frequentados pelo filósofo. Os participantes são divididos em dois grupos menores, com cerca de 15 pessoas.

Heiko Khoo, que é historiador e organizador do passeio, contou a Opera Mundi que quase três mil pessoas já participaram da caminhada pelas ruas de Londres em busca dos vestígios de Marx. Segundo o guia, 95% delas moram em Londres, mas a maioria é originária de outros países. A idade costuma variar entre 25 e 50 anos, e cerca de 60% são mulheres.

Por se concentrar no Soho, o passeio não vai até o túmulo de Marx, que fica no Highgate Cemetery, a 7 km de Piccadilly Circus, o ponto de origem da caminhada. O túmulo de Karl Marx fica no lado leste do cemitério, próximo a nomes como o roqueiro Malcolm McLarem e o escritor George Eliot. Apesar de um dos principais nomes do comunismo estar enterrado lá, é preciso pagar para visitá-lo. O cemitério cobra 4 libras de entrada para adultos ou 8 libras para quem quiser fazer um passeio guiado pelo local.

Serviço:

“Karl Marx The Walking Tour” Saídas aos domingos, às 11 horas
Preço: 9 libras; há a possibilidade de fazer passeios privados
Site: www.marxwalks.com Highgate Cemetery




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