O analista político Paulo Vannuchi disse hoje (19) em seu comentário à Rádio Brasil Atual que considera a cerimônia de restituição do mandato do ex-presidente brasileiro João Goulart, ocorrida ontem (18) no Congresso Nacional, “um dos incontáveis frutos que o Brasil vem colhendo como resultado da conquista histórica a partir de muita pressão e luta da sociedade civil e de familiares de mortos e desaparecidos políticos” pela constituição da Comissão Nacional da Verdade pela presidenta Dilma Rousseff, em maio de 2012, que resultou em várias comissões que investigam crimes políticos ocorridos na ditadura.

No final de 2014, será produzido um relatório com todo o conteúdo apurado pelas comissões. Vannuchi ressaltou que as investigações não são frutos apenas da Comissão Nacional da Verdade, em Brasília, mas de “dezenas, quase 100 comissões da verdade que se multiplicaram pelo Brasil inteiro e que todo dia promovem eventos e debates sobre a justiça de reparação, interrogando torturadores".

Jango foi derrubado da presidência da República pelo golpe de 1º de abril de 1964. O Parlamento declarou a vacância de seu cargo, sob a alegação de que ele teria fugido do Brasil.

Os senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) foram autores da proposta de cassação do ato que destituiu os poderes de Goulart em 1964, que declara que a vacância não poderia ter sido declarada, porque o então presidente se encontrava em solo brasileiro, em Porto Alegre e não no exterior.

Para o analista político, a cerimônia resgata uma verdade que ficou escondida da história brasileira durante muito tempo por trás de uma “mentira oficial” sobre a fuga de Goulart. “Não foi um foragido, não foi um inimigo da lei, foi um presidente constitucional que chegou ao poder pelo voto popular. Finalmente, o Brasil declara que isso era mentira e que o presidente foi vítima de um golpe de estado antidemocrático”, afirmou.

“Há uma frase famosa de Lincoln que eu quero repetir: `Pode-se enganar todas as pessoas algum tempo e pode-se enganar algumas pessoas todo o tempo. Mas não se pode enganar todas as pessoas todo o tempo`”, completou Vannuchi.