Fim do bloqueio a Cuba, uma reclamação que ecoou na ONU

Genocídio, desumano, ilegal e relíquia da guerra fria foram alguns dos adjetivos para o bloqueio dos Estados Unidos a Cuba escutados desde os cinco continentes na Assembleia Geral da ONU.

Por Waldo Mendiuza*, na Prensa Latina
Sexta-feira, 29 de novembro de 2013


Presidentes, premiês e chanceleres de mais de 40 países da América Latina e Caribe, África, Ásia, Oceania e Europa levaram ao pódio do debate geral da Assembleia, em seu 68º período de sessões, a reclamação contra um cerco econômico, comercial e financeiro que já ultrapassa meio século de implementação.

Durante as sete jornadas do foro (entre 24 de setembro e 1º de outubro), a recusa ao bloqueio e as demandas de Washington para seu levantamento , tornaram-se mais uma vez, um dos temas mais debatidos pela comunidade internacional nas Nações Unidas, assim como foi no ano passado.

Em algumas destas falas questionou-se que embora as sucessivas resoluções da Assembleia Geral de pôr fim ao bloqueio, Estados Unidos insiste em sua política com a ilha.

Desde 1992, aprovou-se no principal órgão da ONU textos que instam ao afastamento da unilateral medida, por seu impacto na sociedade e o desenvolvimento da maior das Antilhas, cujas autoridades estimam que os prejuízos acumulados ultrapassem amplamente o trilhão de dólares.

América Latina e Caribe

Para o chanceler da Venezuela, Elías Jaua, o caso do bloqueio americano é um daqueles que põe de manifesto "a alarmante incoerência existente no organismo mundial, por ação ou omissão".

"Por que não aplicam sanções ao governo que mantém há mais de 50 anos um bloqueio econômico ilegal e criminoso contra o digno povo cubano, desacatando as decisões majoritárias desta Assembleia a favor do afastamento do referido assédio?", perguntou.

Na sua fala no pódio, o presidente da Bolívia, Evo Morales, qualificou ao cerco de "o pior genocídio" e também criticou à Casa Branca por não ter escutado os pronunciamentos da Assembleia.

Em seu discurso, o mandatário uruguaio, José Mujica, assinalou o "inútil e triste" de uma conduta que tem como princípio reconhecido esmagar por fome a ilha, enquanto que seu par salvadorenho, Mauricio Funes, defendeu o direito dos cubanos na procura de seu desenvolvimento e bem-estar.

Funes acrescentou: "Cuba faz parte da alma da América e o bloqueio representa um ranço do passado".

Equador, Nicarágua e várias nações caribenhas como Antiga e Barbuda, Barbados, São Vicente e Granadinas, Jamaica, Granada, São Cristóvão e Neves, Trindade e Tobago, Dominica e Santa Luzia se somaram à reclamação na plenária dos 193 membros da Assembleia.

"Exemplo atroz do desatendimento contínuo do direito internacional. Sem sombra de dúvida, diminui a uma grande nação como os Estados Unidos continuar sua vingança míope contra Cuba por meio de um bloqueio econômico ilegal, passado de moda e prejudicial", afirmou Ralph Gonsalves, primeiro-ministro de São Vicente.

Por sua vez, a primeira ministra de Trindade e Tobago e presidenta temporária da Comunidade do Caribe, frisou que esse bloco demanda o levantamento aos poucos do anacrônico jugo ao desenvolvimento sustentável dos cubanos.

Esgrimindo o interesse da paz e a compreensão internacional, o premiê de São Cristóvão e Neves, Denzil Douglas, convocou a Assembleia Geral da ONU a explorar "novos e imaginativos meios de convencer a todos os envolvidos para fechar este desafortunado capítulo das relações hemisféricas".

De "uma ferida aberta no coração do continente, que é desnecessária e precisa ser fechada" qualificou o chanceler da Santa Luzia, Alva Romanus Baptiste, ao se referir à exclusão de Cuba das relações normais e completas na região.

Ampla condenação africana

Dos vários cantos do continente africano se elevaram vozes de solidariedade com Havana pedindo o fim do cerco, cuja entrada oficial em vigor se realizou em fevereiro de 1962, com a proclama 3447 do então presidente americano, John F. Kennedy, embora as sanções tivessem começado quase do mesmo triunfo da Revolução em 1º de janeiro de 1959. Na sua palestra no foro de alto nível, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, destacou "os sacrifícios do povo cubano pelos povos da África na procura da liberdade".

Nós, portanto continuaremos a luta com eles por sua libertação econômica, sentenciou o líder sul-africano.

Seu par da Gâmbia, Yahya Jammeh, qualificou as medidas de Washington como desumanas, injustas e flagrantes violações dos direitos humanos básicos consagrados na Carta da ONU.

Também de Angola, Congo, Tanzânia, São Tome e Príncipe, Gabão, Argélia, Namíbia, Chade, Moçambique, Níger, Seychelles e Gana se realizaram pronunciamentos contra o bloqueio.

Ásia, Oceania e Europa

Líderes e representantes do Vietnã, Sri Lanka, República Popular Democrática da Coréia, Nepal, Timor-Leste, Síria, Ilhas Salomão , Tuvalu e Belarus incluíram em suas falas a demanda do fim do bloqueio.

O presidente do Siri Lanka, Mahinda Rajapaksa, considerou perturbadora a aplicação de ações unilaterais, pelo qual defendeu perante a Assembleia Geral o pleno acesso à opção econômica do povo de Cuba.

Seu homólogo do Timor-Leste, Taur Matam Ruak, afirmou que as sanções de Washington contra a ilha caribenha não reparam na realidade de hoje; enquanto que o chanceler do Belarus, Vladimir Makei denunciou a ilegitimidade das medidas unilaterais e coercitivas.

Em 2012, 188 países respaldaram o texto, rechaçado por Estados Unidos, Israel e Palau, e a abstenção da Micronésia e Ilhas Marshall.




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