As eleições no PT e as artimanhas do poder

E, faço dessas palavras uma homenagem aos/às companheiras/os que participaram do PED, expressando livremente sua vontade

Por Geraldo Cruz
Quinta-feira, 28 de novembro de 2013


No dia 10 de novembro as/os filiadas/os do PT de todo o Brasil foram às urnas. Escolhemos os dirigentes que conduzirão o Partido nos próximos quatro anos. Elegemos presidentes e membros de chapas para os diretórios nacional, estaduais e municipais; além das coordenações das macrorregiões.

O Processo de Eleições Diretas – PED é uma das muitas conquistas das milhares de pessoas que há mais de 30 anos vêm construindo o PT, com suas instâncias de participação direta. Sem dúvida alguma, são estas e outras características de organização partidária que fizeram do PT o maior e mais importante partido de esquerda da América Latina e, talvez, do mundo.

Este ano, nosso PED coincidiu com a semana em que nos deparamos com a prisão de companheiros queridos, acusados não se sabe bem do quê, mas condenados pelo fato de serem PeTistas.

Sim, porque as mesmas denúncias, com evidências mais contundentes contra o PSDB de Minas Gerais, e o vergonhoso desvio de recursos públicos em obras do Metrô e linhas da CPTM, em São Paulo, continuam sem investigação e julgamento. O STF, tão ávido em produzir a imagem da prisão de dirigentes do PT, age com total inoperância nos casos envolvendo tucanos.

Esta diferença de tratamento, as artimanhas e armadilhas do exercício do poder, mais situações constrangedoras verificadas no PED em algumas cidades nos levam, num primeiro momento, a um saudosismo. Bons tempos aqueles em que as eleições para os diretórios eram precedidas de discussões inflamadas de teses e que,a bem da verdade, cadeiras voaram algumas vezes.

Brigávamos, literalmente, defendendo pontos de vistas sobre análises de conjuntura, definição de política de alianças, eleição de prioridades para nossos programas de governo e outros tantos temas que só faziam afirmar o compromisso do PT com o fortalecimento da democracia e a construção de uma sociedade justa, igualitária e livre de corrupção.

No entanto, a experiência do poder nas diferentes instâncias de governo; as campanhas eleitorais cada vez mais caras, nas quais as técnicas de marketing se sobrepuseram ao conteúdo programático; o crescimento desordenado do Partido – a cada administração conquistada, pessoas sem qualquer vínculo ideológico com o PT se aproximavam em busca de cargos e outros benefícios – e, porque não dizer, a ambição pessoal de alguns companheiros tornaram nossa estrela menos brilhante e forte.

Os debates em torno das teses das diferentes chapas foram substituídos por discussões sobre “espaço” nos governos. Por “espaço” leia-se cargos públicos, que passaram a ser negociados como mercadorias. E tudo se faz em nome do “projeto”. E qual “projeto” seria esse capaz de solapar princípios fundantes do nosso Partido?

E é justamente a disputa pelo “projeto” do PT que não nos permite o saudosismo. Ao contrário, exige de nós, militantes, mais coragem e firmeza ideológica do que nunca. As armadilhas do poder, seus fetiches e formas de sedução só podem ser combatidas, numa perspectiva macro, com a reforma política, que colocará fim ao mundo dos negócios estabelecido em torno das campanhas eleitorais, que resulta em diferentes formas de corrupção e relações promíscuas entre o público e o privado. Também, fortalecerá os partidos políticos, o que reduzirá os personalismos e, consequentemente, a fábrica de vaidades pessoais.

Na perspectiva local, e das responsabilidades individuais, o saudosismo deve dar lugar ao exercício da vigilância permanente, inclusive sobre nossos próprios atos. É sempre bom lembrar que os fins não justificam os meios, ao contrário do que tentou ensinar Maquiavel.

Nenhuma atitude contrária à ética pode ser tolerada, por mais nobres que sejam as justificativas. Não existe projeto de construção de uma sociedade justa baseado em truculência. Quem defende a arbitrariedade e o abuso do poder econômico e político não visa o bem coletivo, mas defende interesses privados.

Enfim, para fazer frente às artimanhas do poder, ao rancor da elite e à ambição desmedida de alguns companheiros, é preciso manter vivas as palavras de Che Guevara, aplicadas ao nosso próprio partido: “Há que se endurecer sem perder a ternura, jamais”.

E, faço dessas palavras uma homenagem aos/às companheiras/os que participaram do PED, expressando livremente sua vontade.

*Geraldo Cruz é deputado estadual pelo PT-SP




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