"São Paulo está cansado de 20 anos com o mesmo partido", afirma Padilha
Na estreia do programa Opinião, do iG, ministro e pré-candidato ao governo paulista diz ver "cansaço" da gestão tucana, rebate críticas ao programa Mais Médicos e promete ação dura contra planos de saúde
Quinta-feira, 21 de novembro de 2013
Escolhido para representar o PT na disputa pelo governo de São Paulo, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, minimiza o risco de enfrentar uma campanha virulenta na disputa pelo maior colégio eleitoral do país no ano que vem. As chances de sucesso da campanha petista ao Palácio dos Bandeirantes se apoiam, segundo ele, no “cansaço” que atinge a gestão tucana e na percepção de que o estado precisa reconquistar sua projeção nacional e internacional.
Padilha é convidado do Opinião, novo programa de entrevistas do iG, que todos os meses trará para o centro do debate uma personalidade da cena política, econômica e cultural do País. Nesta edição de estreia, o ministro foi entrevistado pelo publisher do iG, Tales Faria; pelo diretor de Jornalismo, Rodrigo de Almeida; pela diretora da sucursal de Brasilia, Clarissa Oliveira; e pela editora de Saúde e Educação, Ocimara Balmant.
Padilha evitou comentar a possibilidade de a campanha ser pautada por assuntos como as prisões do mensalão ou as denúncias de corrupção na contratação de obras do metrô paulista. E, com o cuidado de não se colocar formalmente como o candidato petista ao Palácio dos Bandeirantes, disse estar “muito feliz” por ter seu nome apontado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo PT como opção para a corrida estadual.
“Da parte do PT, vai ser uma campanha paz e amor”, disse Padilha. “Existe um cansaço no estado de São Paulo. Um partido que governa há 20 anos um estado como São Paulo, um estado dinâmico, criativo, sempre com mudanças e coisas a oferecer para o Brasil e para o mundo, ou tem uma capacidade de se renovar ou enfrenta esse cansaço.”
Tido como um dos quadros escolhidos por Lula para renovar o PT paulista, Padilha também saiu em defesa do colega Fernando Haddad, que encarou em 2012 sua primeira eleição e assumiu a Prefeitura de São Paulo. Diante das denúncias de corrupção que atingem a administração paulistana, o ministro disse que Haddad fez o que deveria: apurou. “Se ele recebeu algum tipo de denúncia de qualquer malfeito na prefeitura, tem que apurar. Eu não esperava outra coisa do Fernando”, afirmou Padilha, em referência às denúncias envolvendo auditores da prefeitura, que resultaram no afastamento do secretário de Governo, Antonio Donato.
Padilha também empenhou-se em rebater críticas ao programa Mais Médicos, que já começa a ser trabalhado dentro do PT como sua principal bandeira de campanha para o ano que vem. De acordo com ele, as queixas da classe médica em relação ao projeto, por exemplo, vão se dissipar na medida em que o programa se consolidar. “Cada vez mais a população brasileira vai apoiar o programa Mais Médicos. E não só a população, mas também os meus colegas médicos”, diz Padilha.
Ao comentar dificuldades de fiscalização e aplicação do programa – como o fato de alguns profissionais dependerem de intérpretes para se comunicar com a população local – Padilha apoiou-se em sua experiência pessoal. Médico infectologista, ele viveu por quatro anos na Amazônia, prestando atendimento à população local.
“O maior obstáculo é não ter o médico. Eu trabalhei com o povo Zo’é, que corria risco de ser dizimado, devido ao contato com pneumonia, malária... Antes eram 300 índios e já havia menos de 200. Cuidamos desses índios, salvamos vidas, hoje são quase 300 índios de novo”, disse. “E até hoje eu não sei uma palavra da língua Zo’é. Não sei construir uma frase. E isso não me impediu de salvar vidas,”.
Planos de saúde
Padilha também foi enfático ao criticar as operadoras de planos de saúde. No País, elas são mais de duas mil e alegam que as regras estipuladas pela Agência Nacional de Saúde (ANS) tornam a sobrevivência do setor impraticável.
“O Ministério da Saúde e a ANS não vão abrir mão de defender o usuário, o cidadão. Nós instituímos um modelo que chamo de modelo pedagógico para as operadoras de saúde. Antes, tínhamos um mercado não regulado na qualidade do atendimento.”
No embate mais recente, a ANS aumentou o rol de procedimentos que devem ter cobertura obrigatória dos convênios. Na lista entraram os medicamentos orais para tratamento de câncer. São remédios de alto custo e que, segundo as operadoras, devem fazer com que os preços das mensalidades subam consideravelmente. Padilha discorda.
“Estou convencido de que incluir medicação oral não significa mais custos. Pelo contrário. Significa que você vai cuidar do paciente na casa dele, fora do hospital, não vai colocá-lo sob o risco de pegar uma infecção hospitalar. Se a pessoa tem direito pelo SUS, por que não ter pelo plano de saúde?”