O papel dos homens no feminismo

O que os homens podem fazer como aliados do feminismo. Ensinar-nos a militar? Jamais. Mas tem muita coisa a ser feita

Por Nádia Lapa, para a CartaCapital
Terça-feira, 19 de novembro de 2013


"Qual o papel dos homens no feminismo?", perguntam alguns, realmente preocupados em não ultrapassar qualquer limite e respeitar as ativistas. A resposta é difícil; há muitos feminismos, e cada um lida com esta questão de forma diferente. Eu, feminista autônoma, sigo correntes que colocam o homem como aliados, jamais como protagonistas. Nunca.

O quê exatamente isso quer dizer, uma vez que o feminismo não tem líderes?

Significa que o feminismo é formado por coletivos organizados de maneira horizontal, nos quais as decisões são tomadas em conjunto e não há função "mais importante" que a outra. O que existe é troca e apoio mútuo. Parece irreal? Pois é assim mesmo que coletivos muito bem sucedidos, como a Marcha das Vadias, funcionam. E funciona muito bem!

Você pode dizer que há feministas mais conhecidas que outras, e isso é óbvio, mas elas não representam todo o feminismo, e sim as próprias opiniões e posicionamentos. Por isso fiz questão de pontuar no início do texto que ele mostra o meu ponto de vista e que não represento qualquer coletivo na minha fala.

Resolvida a questão da liderança, passemos ao protagonismo. Muitos homens inexplicavelmente são contrários ao protagonismo das mulheres, dizendo que esta é uma luta de todos. Há uma confusão neste ponto: a luta até poderia - e deveria - ser de todos, mas um gênero é oprimido, enquanto o outro é privilegiado. Inútil apontar qual ocupa esses grupos. Como falar em igualdade se ela, de fato, não existe? Partiríamos, mulheres e homens, de lugares diferentes!

Costumo responder à insistência pelo "protagonismo compartilhado" com algumas perguntas simples:

Já não bastam as 90% cadeiras no Congresso Nacional que são ocupadas pelos homens?

E as de CEO de empresas, cuja participação feminina é irrisória?

Os homens mandam no mundo e detêm o poderio econômico. Querem ser protagonistas em MAIS UM movimento, movimento este que deseja justamente revolucionar as estruturas que permitiram a opressão das mulheres através dos séculos? Não parece contraditório, mimado na melhor das hipóteses e manipulador na pior?

Alguns homens se dizem feministas, pasmem, para conhecer mulheres. Verdade. É uma nova balada para eles. Outros, para pegar bem na fita. Afinal, é feio demais ser machista, né? Tem gente que se orgulha, vai entender...

Mas se o rapaz está mesmo desejando participar do movimento, em nome das suas irmãs, namoradas, mãe, e mulheres que ele sequer conhece mas que sabe que estão sofrendo, como agir?

Nos seus ambientes masculinos, introduzindo o feminismo. No futebol com os amigos, no boteco, no café no intervalo na firma;
Não compartilhando, de jeito nenhum, imagens que diminuem a mulher ou que obviamente eram para uso íntimo e "vazaram" por um ex vingativo;
Posicionando-se contra seu colega de trabalho/faculdade/familiar que agrediu uma mulher;
Se ela estiver sozinha ou sem apoio, indo com ela a uma Delegacia da Mulher;
Propondo programas de equidade de gênero na empresa em que trabalha;
Não tratando a Marcha das Vadias como Carnaval ou micareta, se vestindo de mulher e passando batom. Ser mulher é muito mais difícil que isso. Proponha ao coletivo, por exemplo, ajudar na segurança da Marcha;
Compartilhando tarefas domésticas;
Não duvidando da palavra de uma mulher que foi vítima de agressão. Ela precisa de apoio, não de julgamento;
Se uma conhecida estiver bêbada na balada, certificando-se que ela chegou sã e salva em casa;
Deixando a mulher falar. A fala é dela. Não interrompa. Nunca. Ouça tudo;
Em hipótese alguma culpe a TPM por uma insatisfação real da sua amiga ou parceira;
Deixando de adquirir produtos e serviços que objetificam mulheres;
Parando de zoar o próprio filho ou o sobrinho por este querer um brinquedo que não é "de menino";
Abandonando de vez os xingamentos sobre a vida sexual da mulher (vadia, periguete, piranha).

Mais importante que tudo, tudo, tudo: jamais nos ensine a militar. Quem sente a dor de ser mulher numa sociedade patriarcal somos nós. Sejam nossos aliados, não nossos donos. Vocês já estiveram nessa posição por tempo demais.




Diretório Estadual de São Paulo do Partido dos Trabalhadores
Rua Abolição, 297, Bela Vista - 01319-010 - São Paulo - SP
Telefone (11) 2103-1313

Licença Creative Commons Esta obra foi licenciado sob CC-Attribution 3.0 Brazil.
Exceto especificado em contrário e conteúdos replicados.