Olavo Hanssen: família e amigos fizeram relatos na Comissão da Verdade
Olavo foi preso em 1º de Maio de 1970 e morreu em decorrência da tortura
Terça-feira, 19 de novembro de 2013
Familiares, companheiros de partido e sindicalistas participaram nesta segunda-feira (18/11), da reunião da Comissão Estadual da Verdade, que colocou em pauta o caso de Olavo Hanssen. Estudante da Poli/USP em 1961, Olavo militou no movimento estudantil e no Partido Operário Revolucionário Trotskista (PORT). Abandonou o curso para, sob orientação do partido, participar do processo de proletarização, indo trabalhar em uma fábrica de carrocerias. Passou a atuar também no sindicato dos metalúrgicos de São Paulo.
Olavo foi preso cinco vezes ao longo de sua atuação. A última delas em 1970, quando fazia panfletagem nas comemorações do 1º de Maio na praça de esportes de Vila Zélia. Levado à sede da Oban e depois ao Dops, Olavo foi torturado de 2 a 8 de maio, quando, seriamente ferido, com comprometimento renal, foi transferido para o Hospital do Exército.
No dia 13 de maio, a família foi informada de que ele se suicidara no dia 9 por ingestão de veneno e que o corpo fora encontrado em um terreno baldio no Ipiranga. Instaurado um inquérito policial-militar, este concluiu pela tese do suicídio.
Túlio Vigevani, colega de faculdade de Olavo, relatou à comissão a militância que travaram juntos na universidade e no partido, desde 1961. "Acompanhei menos as atividades de Olavo a partir de 1964, porque entrei para a clandestinidade", disse. Mas Vigevani destaca que "o assassinato de Olavo tem circunstâncias totalmente esclarecidas", sendo conhecidas, segundo a ele, as atuações na tortura dos delegados Josecyr Cuoco e Ernesto Milton Dias e suas equipes, bem como do médico legista José Geraldo Ciscato.
O presidente da Comissão da Verdade, deputado Adriano Diogo, adiantou que os trabalhos do órgão devem se concentrar na análise e apuração da cadeia de comando dos órgãos de repressão. "Queremos recuperar o documento conhecido como Bagulhão, feito por um coletivo de presos políticos em 1975, dando o nome de torturadores e de médicos legistas que participaram de torturas", acrescentou o parlamentar.
Vigevani também considerou paradigmático que o caso de Olavo constitua o elemento inicial de uma série de campanhas e denúncias que tomaram mais intensidade nos anos seguintes. A morte de Olavo foi denunciada na Câmara Federal e na Organização dos Estados Americanos, entre outros organismos.
Autor de uma biografia sobre Olavo Hanssen, Murilo Leal fez a leitura de atas de assembleias do sindicato dos metalúrgicos em que Olavo se manifesta não só sobre reajustes salariais, mas também contra a intervenção no sindicato. Laudos falhos do IML e ausência de exames como aquele que explicasse em quais órgãos foi detectada a presença de veneno também foram apontados por Leal.
Diversos familiares de Olavo prestaram depoimentos comovidos. "Olavo nasceu socialista, sempre fez questão de repartir tudo, sempre esteve preocupado com a igualdade. Ele foi a primeira pessoa a me dizer que homens e mulheres tinham direitos iguais", relembrou suar irmã Alice.
Ela recordou a procura dos pais por informações sobre Olavo desde o dia seguinte a sua prisão. "Eles só souberam que Olavo estava morto quando um funcionário do IML os procurou e disse que tinha ficado com pena porque um jovem com todos os documentos ia ser enterrado como indigente", afirmou Alice. Segundo ela, o funcionário do IML não quis se identificar, por medo de represálias.
Dulce Muniz e Geraldo Siqueira estiveram presos com Olavo Hanssen. Siqueira, militante do PORT que depois se tornaria deputado estadual, narrou o foco que os órgãos de repressão concentraram em Olavo desde a prisão em 1° de maio e a proteção que o companheiro mais experiente dispensou ao então jovem militante, de 19 anos. Eles estiveram juntos num quartel do Exército, na Oban e no Dops. "Olavo procurava me acalmar, mas eu percebia que ele já tinha apanhado. Quando fomos transferidos para a sede da Oban, o motorista que ia nos levar disse: "Agora vocês vão conhecer o inferno"", contou Siqueira.