Entrevista LD: “Você não consegue construir uma democracia dentro da sociedade sem a participação de todos” - Vera Jursys

A fotógrafa fala sobre o papel dos partidos, da fotografia e de seu novo trabalho, o documentário Mobilizou Geral - a longa década de 80, que terá lançamento no dia 29 de novembro no Sindicato dos Bancários

Por Aline Nascimento, Portal Linha Direta
Sábado, 16 de novembro de 2013



Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP e fotógrafa desde a década de 80, Vera Jursys é a convidada do Entrevista LD dessa semana. Natural de Guarulhos, ela se aproximou do movimento cultural por meio da Casa de Cultura Paulo Pontes – com atuação voltada à periferia da cidade. À época, as projeções do Cine Clube - projeto encabeçado por ela - eram feitas à base de lençóis e muita boa vontade.

Para quem sentiu na pele os reflexos da Ditadura, "formar-se politicamente era praticamente uma obrigação", conta. “Desde essa época foi super importante todo o acolhimento que eu tive de todo o país, daí a minha formação política também”, complementa.

Ela conta ainda sobre o documentário Mobilizou Geral – a longa década de 80 pela fotografia de Vera Jursys, um curta metragem de 15 minutos, que terá exibição no dia 29 de novembro - com horário ainda a ser definido – no Sindicato dos Bancários. O filme foi selecionado para dois festivais de cinema latino-americanos. O primeiro no Chile, na região de Bio Bio, cidade de LEBU com o Ficil; e o outro na Argentina, no 3º FICIP - um festival de cinema político na cidade de Buenos Aires. Recentemente, o curta foi selecionado para o DOCTV 2014, da TV Sesc.

Portal Linha Direta: E a Vera fotógrafa, surgiu nessa época também?

Vera Jursys:
Eu gostava muito de fotografar, mas não tinha máquina. Aí um amigo meu, o José Eduardo Krempel me emprestou uma Nikon, mecânica, com filme, e quando eu fui para Ouro Preto fiz o meu primeiro preto e branco e foi lindo porque eu fotografei ruínas, a cidade, as pessoas. Daí eu nunca me apartei da máquina fotográfica. Primeiro emprestada, depois eu ganhei uma da minha irmã Nanci. Como eu já estava um pouco engajada, fotografava os acontecimentos da minha cidade, do grupo de teatro do qual participei...

LD: E esse seu engajamento, a proximidade com o grupo de teatro, te pautou no cenário político – principalmente por você ter vivenciado um período tão difícil do País, que foi a Ditadura Militar? A fotografia foi a forma encontrada de registrar esse momento?

VJ:
Você acertou. A minha paixão era pelas artes em geral e nessa época eu desenhava muito, adorava pintar. E a fotografia me colocou em contato com a realidade que todos estavam vivendo naquele momento, e era importante fazer uma denuncia, uma divulgação. Tudo era censurado, a música, o teatro. Além do mais, ela me trouxe compensações materiais porque eu comecei a vender meu trabalho. Havia uma carência nos movimentos desses registros. A grande imprensa quando registrava algo importante você não conseguia encontrar os registros. Hoje, por exemplo, jornais como o Estadão e a Folha de São Paulo, que são grande jornais da cidade, não tem esse material em negativo, até porque era oneroso fazer a guarda desse material. Era importante, além do mais, você ter um ponto de vista de uma pessoa que tivesse participando...

LD: Inserida...

VJ:
Isso, porque geralmente se distorcia as informações.

LD: E quem quer conhecer um pouco mais do seu trabalho, pode procurá-lo na Fundação Perseu Abramo?

VJ:
Sim. São mais de 30 mil fotos e fotogramas, a maioria preta e branco mesmo. Pouca coisa em slide, que a gente chama de cromo, que é um processo muito mais difícil, caro A gente comprava o filme em lata pra ficar mais barato, rebobinava...

Precisa da autorização para publicar, mas se houver interesse acadêmico, histórico desse documento, é possível que se faça uma cessão gratuita, inclusive. Todo esse trabalho que eu consegui guardar acaba sendo uma raridade, nessa trajetória de 30 anos muita gente que documentou perdeu esse material porque não conseguia conservar. Isso eu digo de quem trabalhava como freelancer. Quem trabalhava na grande imprensa cedia os direitos e o destino que se dava aos negativos era uma incógnita. [...] Por isso é importante o documentário que eu estou trazendo hoje!

LD: A Vera lançou há praticamente um ano, no dia 28 de novembro de 2012, o documentário Mobilizou Geral – a Longa Década de 80. O evento ocorreu na cidade de Guarulhos, até porque vocês tiveram um projeto aprovado pela Funcultura, da Prefeitura dlocal. Conta um pouquinho mais pra gente?

VJ:
A ideia era dar uma visualidade desse acervo, até contar um pouquinho da nossa história, que é recente, mas tem pouca documentação. A ideia foi também convidar personagens, pessoas que participaram das mobilizações, que foram fotografadas nesse período de 80 pra cá. Eu resolvi pegar a partir da década de 80, quando eu realmente me profissionalizei na fotografia.

LD: E como é ver seu trabalho contar a história política, social e sindical do País?

VJ:
Agora, com as mobilizações de 2013, esse contexto das mobilizações tiveram uma expressão muito importante que trouxe para o filme uma nova visualidade. Quando eu fiz não tinha noção de que podia ter uma repercussão tão grande. Então, hoje se torna muito importante discutir como chegamos ao estado de democracia que temos hoje, como conseguimos derrotar a Ditadura Militar. Foi com muito trabalho! A gente questiona, será que partido é importante? Vocês vão ver nesse filme que é fundamental. Você não consegue construir uma democracia dentro da sociedade sem a participação de todos. Só que cada um pensa diferente, então cada partido é diferente. [...] Tudo começa com base no voto, mas é importante você entender como funciona o processo.

Ouça a entrevista na íntegra:




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