
Não é surpresa que Venezuela seja alvo prioritário de espionagem, diz chanceler
Durante visita ao México, Elías Jaua afirmou que ações de “ingerência” são razão de más relações com os EUA
Terça-feira, 5 de novembro de 2013
O chanceler venezuelano, Elías Jaua, condenou nesta segunda-feira (04/11) a presença da Venezuela em uma lista de alvos “prioritários” para a NSA (Agência Nacional de Segurança dos EUA), segundo difundiu no último domingo (03/11) o jornal The New York Times. Durante visita à Cidade do México, onde se reuniu com seu homólogo local, José Antonio Meade, Jaua afirmou que a espionagem a qualquer governo é “inaceitável”.
“Para nós não é uma surpresa, sabemos disso e é precisamente parte dos problemas que levaram a que as relações entre a Venezuela e os Estados Unidos estejam no nível em que estão”, afirmou a jornalistas, após a reunião com seu par mexicano, segundo a agência de notícias AFP. “É inaceitável que nos espiem, a nós e a qualquer governo do mundo”.
Nos documentos revelados pelo Times, a NSA aponta, em 2007, a Venezuela como um dos seis países considerados “alvos de longo prazo”. O governo norte-americano se preocupava com a influência que o então presidente Hugo Chávez podia exercer contra os interesses dos EUA na América Latina. Um dos objetivos da agência era, segundo o jornal, “prevenir a Venezuela de atingir seus objetivos de liderança regional e perseguir políticas que possam impactar negativamente os interesses norte-americanos”.
Os memorandos indicam que era prioritário acompanhar “desenvolvimentos internos políticos que poderiam resultar em crises”, e os venezuelanos – assim como “os desenvolvimentos bolivarianos latino-americanos” – estavam na mira. A agência também vigiou os e-mails profissionais e pessoais de dez funcionários do alto escalão do Ministério de Planejamento e Finanças do país, classificados como “burocratas venezuelanos obscuros”, nas palavras do New York Times, para achar qualquer indício de formulação de políticas, mesmo que mínimos.
Segundo Jaua, as novas revelações de espionagem contra o país “evidenciam, mais uma vez, as razões” pelas quais Caracas não pode ter boas relações com Washington. “Infelizmente, os esforços iniciados na Guatemala por [John] Kerry e por mim por orientação de ambos os governos se viram frustrados por vários elementos", afirmou ele, sobre a reunião com o secretário de Estado norte-americano, em junho, quando manifestaram intenção de designar embaixadores e estabelecer um canal de comunicação direto para normalizar as relações diplomáticas.
No mês seguinte, no entanto, o governo venezuelano anunciou que romperia o diálogo iniciado com os EUA, devido a declarações da embaixadora norte-americana na ONU, Samantha Power, de que haveria “repressão” à sociedade civil no país. Em setembro, o presidente Nicolás Maduro ordenou a expulsão imediata de três diplomatas dos EUA, por suposta implicação com o financiamento da “extrema direita” no país e em planos de “sabotagem”.
Apesar de ressaltar que o esforço de diálogo com os EUA está congelado, o chanceler venezuelano descartou que o fim de exportações de petróleo ao país seja aplicado como represália. “Não vamos colocar em perigo a segurança energética do mundo, nunca. Não é porque não tenhamos outras opções, nós diversificamos nossas exportações de petróleo. (...) Não vamos jogar, por razões políticas, com a segurança energética de nenhum país do mundo”, disse, segundo o jornal venezuelano El Universal.
*Com AFP