Alckmin usou ameaça do PCC para se promover

"Não vou me intimidar", declarou Geraldo Alckmin (PSDB), depois que veio à tona na imprensa a gravação telefônica de um membro da facção criminosa que dizia que iria "decretar" o governador de São Paulo (na gíria, matar); para o ex-secretário de Segurança Pública Antônio Ferreira Pinto, porém, "esse fato não tinha credibilidade nenhuma" e "Alckmin está aproveitando para colher dividendos políticos"; segundo ele, que deixou o cargo há um ano, os grampos já eram de conhecimento da cúpula da Segurança e do Ministério Público desde 2011, mas foram considerados sem "consistência"

Por São Paulo 247
Quinta-feira, 31 de outubro de 2013


Depois de revelado um diálogo entre membros do PCC (Primeiro Comando da Capital) que demonstrava a insatisfação da facção criminosa com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o ameaçava de morte, alguns comentários na imprensa foram na linha de que as críticas dos criminosos serviram como uma "condecoração" para o tucano – essa palavra em especial foi usada pelo colunista de Veja Ricardo Setti.

Se estavam insatisfeitos com Alckmin, é porque ele combatia a criminalidade. Esse seria o raciocínio. A principal resposta do governador, então, foi: "Não vamos nos intimidar", o que colocaria ainda mais força e credibilidade à sua imagem. O governador anunciou, dias depois, uma força-tarefa para investigar as ações do PCC e a agilidade para cortar sinais de telefone de presídios – algo que já deveria ter sido feito há muito tempo.

Uma declaração crucial do ex-secretário estadual de Segurança Pública Antônio Ferreira Pinto, no entanto, desconstrói essa recente suposta boa imagem adquirida pelo chefe de governo. Em sua primeira entrevista desde que deixou o cargo e foi substituído por Fernando Grella Vieira, há um ano, Ferreira Pinto afirma, ao jornal Valor Econômico, que "Alckmin está aproveitando para colher dividendos políticos com a ameaça do PCC".

Segundo ele, a escuta de um dos membros do PCC que falava em "decretar" o governador era de conhecimento da cúpula da Segurança desde 2011 e não tem credibilidade alguma. "Esse fato não tinha credibilidade nenhuma. A informação é importante desde que você analise e veja se ela tem ou não consistência. Essas gravações não tinham. Tanto que o promotor passou ao largo delas. Eu não vejo uma coerência aí de alguém que exerce um cargo público da relevância que é a segurança de São Paulo", declarou.

Para Ferreira Pinto, a mesma "fanfarronice" atribuída à declaração de Marcola, líder do PCC, de que a facção havia diminuído a taxa de homicídios no Estado - o termo foi usado pelo próprio governador, e Ferreira Pinto concorda - serve para a fala do outro, que disse que ia "decretar" – na gíria, matar – Alckmin. "Foi no mesmo contexto, em 2011. Aí vem o governo e diz `Não vou me intimidar`. Ele está aproveitando para colher dividendos políticos", conclui.

O ex-secretário também afirmou que "tinha plena ciência" dessas gravações e que o governador não sabia da existência delas justamente porque o fato "não tinha credibilidade". "Lamentável. [O governador] deve ter suas razões. Eu acho que é mais pelo viés político. Porque na hora que diz `Não vou me intimidar`, ele está também dando um "upgrade" para a facção. Está admitindo que há credibilidade numa conversa isolada".

Segundo ele, a resposta de Geraldo Alckmin seria válida se o Ministério Público tivesse alguma gravação "em que realmente o governador estivesse sendo ameaçado de morte". Mas o MP não usou da interceptação "porque analisou", segundo Ferreira Pinto, "e viu que era uma declaração irresponsável". "É como alguém dizer aqui, `Ah, vou matar o Obama`", exemplifica.




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