Suplicy: Podem os animais sofrer indiscriminadamente, para o bem da ciência?
“Para que essa prática seja aceitável do ponto de vista ético, é dever do especialista a conscientização de que o animal que está sendo utilizado é um ser vivo e, como tal, é sensível à dor”
Sábado, 26 de outubro de 2013
A utilização de animais em laboratórios, tanto para fins médicos como fins comerciais, exige uma reflexão profunda de toda a sociedade. “Para que essa prática seja aceitável do ponto de vista ético, é dever do especialista a conscientização de que o animal que está sendo utilizado é um ser vivo e, como tal, é sensível à dor”, avalia o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que tratou do tema em pronunciamento ao plenário, na última quinta-feira (24).
Na última sexta-feira (18), ativistas dos direitos dos animais invadiram o Instituto Royal, em São Roque (SP) e libertaram 178 cães da raça beagle mantidos pelo laboratório, chamando a atenção para as condições em que são mantidos os animais utilizados em testes de medicamentos e cosméticos. Segundo os ativistas, os cães sofriam maus-tratos e mutilações.
Em seu pronunciamento, Suplicy lembrou que desde 1860 o tema é objeto de debate, a partir da fundação da primeira associação para defesa dos animais de laboratório pela francesa Marie François Bernard. “Foi decisivo para o estabelecimento de limite no uso de animais como cobaias. A partir de então, diversas outras sociedades protetoras dos animais foram fundadas, assim como leis especificas para esse tipo de uso dos animais foram aprovadas”.
Para o senador, as pesquisas com animais devem ter o mesmo rigor que as realizadas em seres humanos, sendo dispensados às cobaias a mesma atenção e cuidado, como já recomendavam, em 1959, os cientistas William Russel e Rex L. Burch, que em um livro publicado naquele ano estabeleceram três princípios para as expediências com animais, o chamado Triplo R: replace (substituição), reduce (redução) e refine (refinamento de técnicas). Já naquela época, os autores consideravam que alternativas que permitiam a substituição de animais em experimentos científicos já estavam avançadas, como a cultura de células, simulações em computadores e modelos matemáticos.
“Além disso, os experimentos devem ser mais bem planejados e as instalações adequadas com pessoal capacitado para fazer pesquisas com animais”, defendeu Suplicy. O tema é polêmico, reconheceu o senador, já que envolve os direitos dos animais e também a necessidade de desenvolver pesquisas científicas verdadeiramente necessárias. “Mas precisamos ver com que meios.
Creio que a questão mais importante é justamente esta: podem os animais sofrer indiscriminadamente, para o bem da ciência?”, ponderou.