"Operação Mar Nosso": Itália detém cerca de 800 imigrantes sem documentos

Apreensão faz parte de missão militar para dificultar entrada no continente europeu, mas é descrita como “operação humanitária para resgatar vidas”

Por Opera Mundi
Sexta-feira, 25 de outubro de 2013


A Guarda Costeira italiana deteve na madrugada desta sexta-feira (25/10) cerca de 800 imigrantes que estavam a abordo de embarcações ilegais no canal da Sicília, tentando entrar no continente europeu. É a maior apreensão realizada pela missão “Mare Nostrum” (“nosso mar” em latim, termo criado pelo Império Romano para se referir ao mar mediterrâneo e utilizado por Benito Mussolini em sua luta de dominação da África durante o regime fascista) desde seu início, no dia 14 de outubro.

Chamada de “operação humanitária de vigilância” pelas autoridades italianas, a missão militar tem como objetivo impedir o ingresso de imigrantes sem papeis pelo mar mediterrâneo, uma das principais portas de entrada a Europa. No plano, são usados drones (veículos aéreos não tripulados), helicópteros de longo alcance com instrumentos óticos e de infravermelho e quatro embarcações da Marinha com o argumento de que a Itália está “resgatando” e “salvando a vida” dessas pessoas.

Entre os recém-chegados das quatro embarcações interceptadas pelos oficiais italianos estão crianças, mulheres e homens de todas as idades provenientes, em sua maioria, da Síria, mas também de países africanos, como a Eritreia. Os imigrantes foram encaminhados a centros de abrigo destinados a estrangeiros vivendo no país sem documentos na ilha de Lampedusa e em outras cidades da Sicília.

A “Mare Nostrum” foi lançada depois da tragédia do dia 3 de outubro, quando um barco com imigrantes naufragou próximo à ilha de Lampedusa, deixando mais de 350 pessoas mortas, incluindo crianças e mulheres grávidas. De acordo com a OIM (Organização Internacional para as Migrações), cerca de 25 mil pessoas morreram nas últimas duas décadas tentando cruzar o Mar Mediterrâneo a partir do Norte da África.

Salvar vidas ou espantar os imigrantes?

O desastre chamou a atenção para a problemática dos estrangeiros que tentam nova vida na Europa, sendo um dos principais temas na reunião da Cúpula da União Europeia de discussão desta sexta-feira (25/10). No encontro, serão discutidas propostas de reformulação da política migratória do continente supostamente para “salvar vidas” perdidas no trajeto para a Europa.

Os líderes dos países mediterrâneos, por onde a maior parte dos imigrantes sem documentos entram no continente, reclamam que a responsabilidade por essas pessoas deve ser compartilhada com os outros membros do bloco. Mais especificamente, eles pedem por auxílio na política de vigilância de suas fronteiras e mudanças na Convenção de Dublin, que rege o sistema de asilo na União Europeia.

“A Itália não pode ser o primeiro país (de entrada de imigrantes sem documentos) e assumir todo o peso nas suas costas”, disse o premiê italiano, Enrico Letta, na semana da tragédia de Lampedusa.

O representante ainda associou o aumento do afluxo de imigrantes à Europa à falta de controle das fronteiras na Líbia, de onde muitas embarcações partem. “O nosso problema chama-se Líbia. Tudo mudou nos últimos dois anos”, afirmou se referindo à queda de Muamar Kadaffi, com quem o governo italiano mantinha um acordo para barrar os imigrantes. Em troca de assistência financeira, a Líbia ficava responsável de combater às saídas de imigrantes de sua costa marítima e se responsabilizava também por repatriar os refugiados para seus países de origem, a maioria proveniente da África Subsaariana.

“A União Europeia deve facilitar o apoio político, logístico e financeiro a aqueles países com fronteiras exteriores e que assumem mais responsabilidade em benefício ao interesse comum”, afirmou nesta semana o presidente espanhol, Mariano Rajoy. “O controle das fronteiras exteriores da União Europeia é um esforço que deve ser compartilhado pelo conjunto do bloco, estados-membros, instituições e agências”, acrescentou.

Mais drones "humanitários"

Sob o argumento de que o mar Mediterrâneo não pode continuar como “cemitério da Europa”, os líderes europeus enfatizam propostas de melhorar o sistema de vigilância nas fronteiras – entre as quais a missão “Mare Nostrum” é um dos exemplos. Nesta terça-feira (22/10), a Alta Representante da União Europeia para Assuntos de Política Externa e de Segurança, Catherine Ashton, sugeriu que o bloco use drones e outros aparelhos na vigilância.

Em entrevista ao site Russia Today, o representante belga na União Europeia, Philip Claeys, disse que está é a melhor saída. “Estamos conversando para fazer o controle de fronteira, no Mar Mediterrâneo especificamente, mais eficiente”, afirmou ele. “E isso diz respeito a radar, imagens de satélite, drones. Toda tecnologia possível deve ser usada para isso, para controlar a imigração ilegal, o que, ao mesmo tempo, ajuda a salvar vidas”.

A Convenção de Dublin, de acordo com a qual os pedidos de asilo devem ser processados pelo primeiro país a receber o imigrante (e não o seu destino), também está sendo revisada, já que 90% dos asilados são recebidos por apenas dez países do bloco.

No encontro desta sexta (25/10), será criadaoum grupo de trabalho para apresentar propostas de medidas em dezembro deste ano.




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