Brasil é referência no combate à fome no mundo
Tecnologia na produção agrícola brasileira foi destaque no Fórum Inovação, Agricultura e Alimentos para o Futuro Sustentável
Sexta-feira, 11 de outubro de 2013
Até 2050, estima-se que a população mundial alcance o número de 9 bilhões. Com isso, torna-se um desafio alimentar todas essas pessoas. Para a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), idealizadora do chamado Desafio 2050, o Brasil terá papel fundamental contra a fome, contribuindo com até 40% do crescimento na produção global de alimentos até 2050.
O País é um dos 40 países que já alcançaram a meta estabelecida em 1996 de reduzir pela metade a proporção de pessoas com fome até 2015, e, por isso, tem o papel tanto de liderar o fornecimento de alimento ao mundo, além de transferir tecnologias para a África Subsaariana e outras regiões do hemisfério sul.
Para alcançar o Desafio 2050, deve-se partir do “pleno entendimento de que crescimento econômico, progresso e sustentabilidade não são conceitos antagônicos”, ressaltou o presidente da Embrapa, Maurício Lopes, durante o 5º Fórum Inovação, Agricultura e Alimentos para o Futuro Sustentável, realizado na última quinta-feira (10). O evento marcou o início da Semana Mundial da Alimentação, que mobilizou a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a Embrapa, a Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) e a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).
A agenda de prioridades também deve incluir defesa vegetal para lidar com o risco maior de disseminação de pragas e doenças, combate às perdas e ao desperdício de alimentos, e a aplicação de biotecnologia e agricultura de precisão para compensar a fadiga dos métodos tradicionais. “Processos de melhoramento tradicionais geram ganhos de produtividade cada vez menores”, destacou Lopes.
Ao justificar a razão do Brasil ser fundamental para garantir a segurança alimentar mundial nas próximas décadas, o agrônomo Alan Bojanic, representante da FAO no Brasil, salienta que o País “já mostrou capacidade de desenvolver tecnologias para os trópicos, tem água em abundância, recursos humanos qualificados e disponibilidade de terra”.
O incremento da produtividade agropecuária com sustentabilidade ambiental, no entanto, demanda bem mais do que a adoção de novas tecnologias para o cultivo. Para Bojanic, as tecnologias para terem efeito “precisam ser complementadas com infraestrutura, políticas sociais e mudança cultural para romper com o tradicionalismo do produtor”.
Para não decepcionar quem aposta na capacidade do Brasil contribuir com 40% do crescimento na produção global de alimentos até 2050, Lopes destacou também que se deve priorizar a inteligência estratégica para antever o futuro, investir na geração de conhecimento com atenção às ciências básica e aplicada, e ampliar o relacionamento. “Governos e instituições não devem operar de forma isolada”, comentou.
Tecnologia brasileira na produção agrícola
O presidente da Embrapa destacou a evolução da tecnologia brasileira na produção agrícola. “A decisão de desenvolver uma agricultura baseada em ciência, nos anos 1970, fez o Brasil sair de uma situação de dependência, alcançar a segurança alimentar e tornar-se a esperança de equilibrar demanda e oferta”, disse.
“No passado estava tudo por ser feito”, conta Lopes, para quem três aspectos importantes devem ser ressaltados na revolução verde brasileira, que tirou o País da condição de importador de alimentos: a transformação de solos ácidos em férteis, notadamente no Cerrado; a adaptação de sistemas de produção animal e vegetal às condições tropicais; e a plataforma de práticas sustentáveis como o plantio direto, presente em 30 milhões de hectares, a fixação biológica de nitrogênio e o controle biológico de pragas.
Quadro da fome
O crescimento populacional se dá em regiões com baixo aporte tecnológico, o que torna a missão de reduzir o contingente de 850 milhões de subnutridos no mundo ainda mais desafiadora. No Brasil, a proporção de subnutridos em relação ao total da população decresceu de 15% no período de 1990/92 para 6,9% em 2011/13, segundo a FAO.