Uma colaboração para debate sobre a junção Marina Silva e Eduardo Campos

Um movimento desse porte requer tempo, construção de bandeiras que simbolizassem a fusão, que permitissem o desenvolvimento da identidade social dessa manobra

Por Edinho Silva
Quinta-feira, 10 de outubro de 2013


A filiação de Marina Silva ao PSB de Eduardo Campos é sem nenhuma dúvida o maior fato político do crepúsculo de mudanças partidárias visando às eleições de 2014. A filiação de uma liderança nacional como Marina em um partido político por si só é um fato de visibilidade. Mas, é notório que essa movimentação cria um acontecimento pró-oposição que desde as mobilizações de junho vinha em uma "agenda" de perda de espaço no cenário nacional no qual o governo Dilma cresce a cada pesquisa tabulada.

Além do fato novo gerado pela filiação de Marina ao partido do presidenciável Eduardo Campos - que coloca a oposição como protagonista no debate político de momento, portanto, episódio que tende perder espaço com o tempo - qualquer outra análise "bombástica como tem feito parte da mídia" é exercício de puro futurismo, sem qualquer lastro na realidade.

É importante ponderar que uma junção de lideranças de projetos de curto prazo desse porte "teria fôlego" se o movimento político se caracterizasse como uma fusão de projetos políticos estratégicos, que passasse, inclusive, pela fusão partidária. Ou seja, lideranças abrindo mão de suas aspirações político eleitoral em prol de algo que fosse além das eleições de 2014, que significasse a construção de um projeto de médio e longo prazo para a disputa da hegemonia na política nacional. Uma fusão programática e, por consequência, de base social.

Um movimento desse porte requer tempo, construção de bandeiras que simbolizassem a fusão, que permitissem o desenvolvimento da identidade social dessa manobra.

Nada indica que o feito Campos/Marina tenha essa dimensão, já que as duas lideranças têm projetos pessoais de curtíssimo prazo e toda a construção política se dá objetivando 2014. O que une Eduardo Campos e Marina Silva não é a construção de um projeto de Brasil e sim o discurso contra o governo Dilma e o PT. Definitivamente, isso é muito pouco para sustentar uma junção marcada por tantas aspirações pessoais e, em decorrência, sem o horizonte do longo prazo, com tantas contradições que vão se expressar no próximo período.

O que muda no cenário de 2014?

De imediato, eu diria que pode mudar o perfil da disputa de um possível segundo turno, se ele existir, e se for com Eduardo Campos/Marina, ex-ministros de Lula e, se chegarem unificados até lá, com um possível discurso de terceira via. Possibilidade que existe com a superação de muitas condicionantes, algumas já ponderadas aqui. Fora essa hipótese, que exigiria da candidatura Dilma um "outro calibre no debate", a junção "socialista verde" muda pouco na geografia política já prevista, principalmente para o projeto liderado pelo PT, hoje representado pela presidenta Dilma.

Em todas as leituras de cenários que construímos para 2014 eram consideradas a candidatura Dilma representando o legado do projeto em implantação desde 2003 no Brasil - projeto Lula/Dilma -, outra candidatura liderada pelo PSDB que iria buscar polarizar o debate de projeto com a presidenta Dilma - tudo indica que seja a candidatura de Aécio Neves - e uma outra candidatura que buscaria se caracterizar como terceira via que, mais provável, seria o papel de Marina Silva. Pelo "desenho eleitoral" do último período com os movimentos do PSB, saída do governo Dilma, passou a existir a possibilidade da candidatura de Eduardo Campos disputar o "papel de terceira via". De relevante, essa era a geografia eleitoral que se desenhava para 2014.

O que muda com a junção Marina/Campos? Da perspectiva da candidatura Dilma, nada. Esse fato novo vai exigir mais da candidatura de Aécio Neves que vai ter que fazer funcionar sua maior estrutura partidária e modernizar seu discurso programático para não ser pressionado eleitoralmente e não perder espaço no campo da oposição para a nova força política construída pelos socialistas verdes.

Para a candidatura Dilma sobra o desafio que já existia de continuar aumentando a aprovação do governo junto à sociedade. Se o governo Dilma ultrapassar a barreira dos 50% de ótimo e bom de aprovação e mantiver essa aprovação até o período eleitoral, dificilmente as movimentações políticas que hoje estamos analisando vão ter impacto na sua base de sustentação social. Nesse sentindo, a junção Marina/Campos estabelece muito mais desafios para a oposição do que para o nosso projeto.

Mesmo o impacto no campo da oposição só poderá ser medido no decorrer do tempo e vai depender da capacidade da "terceira via" de superar as contradições de uma união abrupta e marcada por interesses pessoais.

A junção Campos/Marina na política paulista

Após o impacto na imprensa da junção Marina Silva com Eduardo Campos se iniciam as especulações sobre o que essa junção provocaria na política nos estados e sobre alterações nas composições dos palanques. No caso do estado de São Paulo se aventa a possibilidade dos marinistas assumirem o comando do PSB paulista e uma possível disputa interna que se avizinha.

A junção dos marinistas, mesmo os neomarinistas, como o deputado federal Walter Feldman, ex-tucano, com o PSB pode sim explicitar muitas contradições na política estadual. Importante dizer que a junção Marina/Campos é um "poço" de contradições e deverá fomentar disputas, também, no cenário nacional, como ponderado acima.

Penso que será muito difícil o atual presidente do PSB paulista, deputado federal Márcio França, perder espaço na política desenvolvida pelos ditos socialistas, que no estado têm ligações orgânicas e históricas com os tucanos neoliberais. Ele, Márcio França, tem total domínio sobre o partido no estado e se tornou operador de Eduardo Campos nos últimos movimentos estratégicos do governador pernambucano, inclusive na aproximação com a Marina Silva. Márcio França está muito prestigiado e fortalecido dentro do partido e continuará operando a aliança com [Geraldo] Alckmin. Essa deverá ser a possibilidade real para o PSB em São Paulo. A candidatura Eduardo Campos não tem muito “para onde ir” no estado. Ele precisa de palanque. A hipótese do PSB lançar candidatura própria é remota, quase impossível.

O palanque mais consistente para o projeto de Campos em SP é com o PSDB e esse movimento colabora para legitimar o "giro conservador" que tem feito já há algum tempo na política nacional. É importante ressaltar que os tucanos no estado têm muita resistência ao Aécio Neves, já que o partido é muito influenciado por José Serra, desafeto político do senador mineiro, e o campo tucano liderado por Alckmin vai operar no pragmatismo puro: o que interessa é a vitória do atual governador, secundarizando a eleição nacional.

Em síntese: interessa muito ao PSDB paulista uma aliança com o Eduardo Campos. O que significa uma provável crise com a campanha nacional do PSDB. Mas esse é "outro capítulo".

A hipótese do PMDB paulista com a candidatura de Paulo Skaf ser o palanque do PSB nacional, como especula uma parte da imprensa, é improvável. O vice-presidente Michel Temer tem manifestado vontade política em se manter nessa posição e tem sido o principal articulador da aliança PT/PMDB, e não são poucos os exemplos de lealdade de Temer ao projeto liderado por Dilma. Se concretizada a improvável possibilidade do palanque do PMDB em SP ser utilizado pela candidatura Eduardo Campos/Marina significaria uma derrota pessoal para Michel Temer e enfraqueceria sua posição na chapa majoritária nacional e no seu próprio partido. Hoje essa hipótese está totalmente descartada.

É natural que a junção de Marina Silva com Eduardo Campos provoque especulações sobre os palanques estaduais, mas é importante mediarmos que a Marina estava sem partido e a Rede nunca passou de uma hipótese, portanto, sem representação significativa nos estados. Difícil esse movimento provocar mudanças importantes nas composições estaduais em decorrência da junção eleitoral das duas lideranças. A única mudança concreta é a "valorização de Eduardo Campos" nas negociações estaduais pelo fato novo. Mas, se as pesquisas não demonstrarem uma migração significativa e permanente do eleitorado de Marina Silva para ele, esse cacife tende a se perder no tempo.

*Edinho Silva é presidente do PT em SP e deputado estadual




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