"Espero que o relatório da Comissão da Verdade vá para as escolas"
Em entrevista ao ‘Brasil de Fato’, psicanalista fala sobre as contradições do Brasil e suas expectativas em relação ao trabalho da Comissão Nacional da Verdade, da qual faz parte
Terça-feira, 8 de outubro de 2013
O principal problema das grandes cidades é a desigualdade social, que faz do mesmo território um espaço distinto para as diferentes classes sociais. As contradições dentro de uma mesma cidade levam ao sentimento de desencanto, que está na raiz das mobilizações que tomaram o país em junho.
A avaliação é da psicanalista Maria Rita Kehl, que é especialista em psicologia social e em psicanálise. Em entrevista ao Brasil de Fato, Maria Rita Kehl relaciona desigualdade, juventude e violência policial.
Maria Rita Kehl foi indicada pela presidenta Dilma Rousseff, em 2010, para integrar a Comissão Nacional da Verdade, criada para investigar os crimes cometidos pelo Estado brasileiro durante o regime militar. “A nossa anistia teve condições impostas por quem tinha a força. Não houve uma votação democrática. A gente sente aos poucos os sintomas de não ter havido uma verdadeira reparação da violência e da ilegalidade do Estado”, diz.
Sobre as expectativas em relação ao relatoria final da comissão, Maria Rita diz esperar que o volume de informações a ser posto à disposição da sociedade diminua. “Não podemos esquecer que a ditadura só se impôs porque teve apoio de uma parcela da sociedade. O relatório pode criar uma rejeição profunda à volta de um regime como a ditadura, mesmo de quem nunca sofreu nada naquele período. A gente espera que o relatório vá para as escolas para que até as crianças possam entender.”
Autora do livro O Tempo e o Cão (Boitempo), que debate a depressão na sociedade contemporânea, ganhou o Prêmio Jabuti na categoria Educação, Psicologia e Psicanálise.