"A rede é livre, as pessoas falam o que pensam", afirma Adolfo Pinheiro

Marco civil da internet e ataques sofridos pela organização virtual da militância petista nas redes fazem parte do bate-papo que reabre a seção Entrevista LD

Por Aline Nascimento, Portal Linha Direta
Sábado, 5 de outubro de 2013



O coordenador do núcleo de Militância em Ambientes Virtuais (MAV) do PT-SP, Adolfo Fernandes é o convidado desta semana do Entrevista LD. Ele avalia os dois meses em que percorreu o estado com as oficinas de Mídias Sociais 2013 – atividade que contemplou até o momento as 16 macrorregiões do interior, comenta o debate que se formou sobre a questão de um marco civill da internet e os ataques sofridos pela militância petista por se organizar em rede.

Leia a íntegra abaixo:

Portal Linha Direta: Como tem sido a experiência de percorrer o estado de São Paulo com as Oficinas de Mídias Sociais do PT-SP?

Adolfo Pinheiro:
Tem sido bastante positiva. Há uma necessidade da militância em conhecer mais as ferramentas de mídias sociais, de estar inserida. A partir das manifestações de junho, a militância percebe que as coisas estão acontecendo primeiros nas mídias sociais, para só depois ganhar as ruas. E assim também tem sido com as mídias tradicionais. As redes sociais têm pautado as mídias tradicionais, os veículos de comunicação de massa.

Portal LD: Essa é a terceira atividade do tipo promovida pelo Diretório Estadual do PT-SP. Da primeira vez, o foco não foram as mídias sociais, e sim, as redes sociais como um todo. Você enxerga aí uma evolução desse processo, principalmente após as manifestações de junho?

AP:
Sim, a primeira atividade foi mais como uma oficina de inclusão digital. A gente fazia com que as pessoas criassem e-mails, entrassem nas redes sociais por meio do Facebook, Orkut, Twitter. Essa segunda rodada a gente começa falando de comunicação, o papel das redes saciais nas manifestações, o papel das redes sociais na conjuntura política. Então é um tema bem mais amplo e a militância sente a necessidade de um debate e de conhecer mais profundamente o que está sendo debatido na rede.

Portal LD: Neste final de semana vocês percorrem as duas últimas macros que compõem o interior. Como foi essa etapa da atividade em números? Houve boa adesão, mobilização por parte da militância?

AP:
Houve sim, uma média de 30 a 40 pessoas participando das oficinas nas macrorregiões, com picos de até 60 pessoas. A gente acredita que vá fechar com uma média de 800 participantes. Avaliamos que é uma oficina que precisa de continuidade, porque as redes sociais são muito dinâmicas.

Portal LD: As redes são hoje, de fato, uma maneira de articular politicamente as pessoas? Está nela o caminho para a evolução na participação, na militância, pensando já em 2014?

AP:
Eu acredito que em 2014 as redes sociais serão protagonistas no debate eleitoral. Se você observar, até os amigos da gente que não falavam sobre política hoje debatem política nas mídias sociais, coisa que não acontece no cotidiano. O campo político vai ser nas redes na próxima eleição.

Portal LD: Fechadas as 16 macrorregiões do interior, faltam ainda as quatro da região metropolitana. Como vocês pensaram o formato para essa atividade?

AP:
A gente pretende fazer um formato diferenciado, uma vez que as oficinas realizadas nas macros do interior tiveram um tempo muito curto. A gente quer trazer isso para São Paulo. Trazer também as pessoas do interior para a capital para fazerem diversas oficinas temáticas, assim, ensinar as pessoas a lidarem com determinadas ferramentas para que tenham uma atuação melhor nas redes.

Portal LD: E quando isso deve acontecer?

AP:
A gente tem uma data, ainda não definitiva, mas deve ser no dia 30 de novembro.

Portal LD: Então no dia 30 vocês devem unificar interior e região metropolitana em uma atividade, para que seja colocado em prática o ensinaram nas oficinas?

AP:
Justamente. A gente quer fazer essas oficinas e ampliar com um debate mais temático com pessoas de relevância, talvez um jornalista, um ativista da internet. Vai ser muito produtivo e a gente quer construir esse legado.

Portal LD: Outra questão que ainda divide opiniões é o marco civil da internet. Esse tema tem feito parte das oficinas?

AP:
Tem sim, até porque é essencial. Se a gente não tiver regulamentação para a internet, para manter como ela é hoje, vai se tornar inviável fazer a militância na rede. Há alguns pontos aos quais a gente precisa estar atento, como a neutralidade na rede. O que é essa neutralidade? É o tratamento que as operadoras de telecom dão à internet. Hoje não querem mais cobrar pela velocidade, e sim, pelo tráfego de dados. Então se você acessa muito conteúdo eles querem cobrar mais. Se isso acontece, a gente sabe que essa militância vai por água abaixo. Quem tem mais dinheiro vai ter uma internet melhor, quem não tem vai ter uma internet limitada. Isso a gente não pode permitir que aconteça.

Portal LD: Você coordena o MAV, pode responder pelo grupo, como ele encara essa questão do marco civil?

AP:
Acho que é um ponto comum para quem quer que exista uma internet democrática. Todos veem dessa forma: temos que lutar para preservar a neutralidade da rede. Tomar cuidado com alguns aspectos em relação a privacidade. Hoje todo mundo sabe que estamos sendo espionados pelos norte americanos. A gente precisa desse marco cível para regulamentar essas atuações. Os militantes do MAV buscam a internet democrática, livre, horizontal e neutra.

Rádio LD: É essa então a busca do MAV?

AP:
Sem dúvida alguma. Lutar pela internet livre, pelo uso de softwares livres. Esse é outro tema que a gente precisa começar a abordar. Há uma dificuldade porque todo mudo é formado em software prioritário, o aprendizado começa com a Microsoft e é preciso começar a migrar para outra plataforma, o Linux, por exemplo.

Portal LD: Um assunto recorrente, mas vamos lá. Em setembro o Reinaldo Azevedo publicou um texto na Veja.com citando mais uma vez o MAV. Entre os termos escolhidos por ele estão: “atentados terroristas” e “intolerância política nas redes”. Como você avalia essa postura, esse tipo de crítica?

AP:
O posicionamento dele é o posicionamento de quem não conhece a rede. Ele atribui tudo que acontece na rede ao MAV. Tudo que não é favorável ao pensamento dele. A rede é horizontal, cada um fala o que quer. As pessoas começam a entender como funciona a rede. Do contrário fica fácil atribuir a uma determinada organização ou a um determinado partido qualquer ação que vem da rede. A rede é livre, então as pessoas falam o que pensam. Elas nunca tiveram essa liberdade por meio dos veículos tradicionais de comunicação. Agora estão tendo e isso dói.

Portal LD: Nesse mesmo texto ele diz que o MAV é uma articulação para atingir os adversários políticos do PT. Mas há matérias mostrando que esses mesmos adversários políticos estão se organizando da mesma forma nas redes. É uma contra resposta ou apenas uma cópia da atuação desse núcleo petista?

AP:
O MAV, como o PT sempre foi, é pioneiro na organização da sua militância. Mas é assim, o que é bom é para ser copiado mesmo. O que precisa ficar claro é que a gente não ensina as pessoas a atuarem na rede, a gente ensina as pessoas a se apoderarem da ferramenta. A atuação na rede é livre, não tem como você colocar cabresto na internet. O que a gente pode ter certeza é que a militância do PT sabe se aprofundar no debate, por isso a gente não tem medo de inserir nossa militância na rede.

Portal LD: E qual balanço você faz desses quase três anos do MAV?

AP:
Tudo evolui e o MAV evolui positivamente também. Foram acertos, foram erros e a gente segue evoluindo na construção e no entendimento que a gente segue cada dia mais a rede é livre e de que as pessoas tem uma liberdade que não tinham antes. As pessoas querem ter o conhecimento das ferramentas para se manifestar. O papel do MAV é esse, passar esse conhecimento e, de repente, fazer uma interlocução entre partido e militância. Acredito que, como as redes, a gente precisa evoluir cada vez mais.




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